Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e da Unifesp estão trabalhando em uma pesquisa que revela detalhes da ação de uma proteína bacteriana no sistema imune.
A proteína, denominada flagelina, está presente em todas as bactérias móveis, ou seja, que possuem capacidade de locomoção. Embora a comunidade científica ainda não conheça profundamente ação da flagelina no corpo humano, pesquisadores de todo o mundo estudam o seu potencial como ativador do sistema imune em vacinas e terapias contra alergias, infecções e até mesmo contra o câncer.
A importância da pesquisa brasileira é a descoberta de detalhes da ação da flagelina. Esses detalhes devem ser incorporados ao ensino de alunos de medicina, farmácia e outros cursos da área de ciências biológicas, de acordo com Karina Bortoluci, orientadora do programa de doutorado do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Karina é também professora da Unifesp e conta que já está introduzindo em suas aulas algumas das informações advindas do estudo. Segundo Karina, “a pesquisa adiciona um novo modelo de estudo para análise do efeito da flagelina no sistema imune”.
A tese, conduzida por Silvia Lage e Karina Bortoluci, revela detalhes até então desconhecidos da ação da flagelina no sistema imune. Por ser uma proteína bacteriana, a presença dela no organismo é rapidamente detectada pelas células do sistema imune, que a reconhecem como um corpo estranho que deve ser combatido. Um dos mecanismos utilizados para esse combate é a indução da morte da célula infectada por um processo conhecido como piroptose. Já se sabia que esse processo de morte celular é regulado pela caspase-1 e induz o rompimento da célula. O que ocorre, segundo a pesquisadora, é que essas células emitem um “alerta” ao sistema imune, gerando uma resposta inflamatória no organismo que ajuda a controlar infecções. Ao introduzir a flagelina no sangue, os pesquisadores podem portanto mimetizar uma infecção e ativar o sistema imune.
O estudo de Silvia Lage mostrou que, além da caspase-1, outra via pode ser ativada pela flagelina citosólica, induzindo um processo de morte celular também envolvido no controle de infecções. Essa via envolve a participação de enzimas presentes no lisossomo da célula. Essas enzimas podem ser novos alvos a serem estudados por outros cientistas que já estão testando a flagelina na produção de vacinas e outros fármacos experimentais.