Encontrou-se cobre em concentrações mais altas do que as referenciais, na represa Paiva Castro – uma das represas do sistema Cantareira – por meio de análise de sedimentos. O excesso é causado pela falha no sistema de saneamento básico na região.
Sheila Cardoso, em doutorado pelo Instituto de Biociências (IB) da USP realizou analise de metais nos sedimentos da represa, fazendo um levantamento histórico da concentração de elementos químicos no corpo hídrico.
A pesquisadora encontrou níveis normais dos metais estudados – cádmio, cobre, cromo, zinco, níquel, manganês, alumínio e chumbo –, exceto durante o período de construção da represa – há quase 50 anos – em que houve picos de concentração de chumbo e manganês. Além disso, a concentração de cobre no período atual encontrada foi mais de três vezes maior do que o valor de referência, sugerindo contaminação pelo metal na área. Os níveis de cobre encontrados nesta represa não são considerados tóxicos para o ser humano, e bem menores do que em represas mais degradadas – como a Billings e Guarapiranga – mas é prejudicial para a biota, principalmente os peixes.
A presença de cobre está associada à aplicação de sulfato de cobre na represa para impedir a floração de certas algas. Algumas destas algas podem produzir algumas substâncias tóxicas ao ser humano que encarecem o tratamento da água. Mas Sheila explica que estas algas nascem por conta dos nutrientes como: fósforo e nitrogênio provenientes do esgoto despejado sem tratamento.
Coleta de sedimentos da represa Paiva Castro
Gestão de recursos hídricos
Outro viés da pesquisa de Sheilla foi estudar a possibilidade de instalação do modelo de gestão de recursos hídricos europeu – chamado Diretivo Quadro D’água (DQA) – no Brasil, levando em consideração apenas as questões ecológicas. Esse modelo apresenta algumas vantagens ao adotado atualmente no Brasil: a principal diferença apontada pela pesquisadora está no objetivo do DQA que é atingir o bom estado ecológico do corpo hídrico: “O bom estado ecológico acontece quando a condição do corpo hídrico se desvia só um pouco daquela tida como natural, em que os impactos humanos são mínimos”, explica. Em contrapartida, o sistema brasileiro possui critérios, bastante generalistas, com foco apenas na análise química, para classificar a água, assumindo uma legislação que se baseia no uso para classificar um corpo hídrico.
A pesquisa concluiu que seria inviável aplicar esse modelo de gestão em todo o Brasil e, segundo Sheila, o principal entrave seria o saneamento básico deficitário no país. “Mas a gente poderia fazer isso em outros lugares, em regiões onde o sistema de gestão estivesse melhor estruturado, como São Paulo.” diz a pesquisadora. O estado de São Paulo, de acordo com dados do IBGE de 2010, possui uma das melhores coberturas de saneamento básico do país, além de o número médio de pontos de monitoramento estar dentro dos padrões mínimos estabelecidos pela União Europeia. A pesquisadora ainda evidencia a importância da realização de pesquisas nos corpos hídricos, para conhecê-los e então possibilitar a aplicação do DQA:“Uma das exigências pra se estabelecer estado ecológico é ter uma colaboração muito grande da comunidade científica”.