Normalmente, quando um processo cirúrgico é realizado, a recomendação é de repouso imediato e, se houver necessidade, posteriormente a fisioterapia é indicada. Questionando os fundamentos e a veracidade desse tipo de procedimento, a mestranda Fernanda de Castro Stievani, com seu orientador professor Luis Claudio Lopes Correia da Silva da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, trabalharam no desenvolvimento de um protocolo de reabilitação no período pós-operatório inicial da artroscopia em equinos (cirurgia que trata lesões nas articulações).

A pesquisa foi realizada em casos clínicos de modo a testar um protocolo de fisioterapia passiva, usando gelo e movimentação passiva da articulação (mobilização a partir de extensões e flexões da articulação, estimulando o movimento), em pós-operatórios imediatos.

Para o estudo, foram testados cavalos que chegaram à FMVZ para retirada de fragmentos intra-articulares causados pela osteocondrite dissecante que, segundo o docente, “é a doença ocasionada por uma falha durante o desenvolvimento do animal, onde há o destacamento de fragmento de tecido ósseo associado à cartilagem articular”. A doença pode causar dor, inchaço e degeneração da articulação, e “depois de manifestados os primeiros sintomas, deve-se operar o quanto antes, para evitar a osteoartrite, ou artrose, quando a articulação fica muito dolorida e enrijecida, com perda de movimentação”. Além disso, soma-se ainda a preocupação com perdas econômicas, quer pelos custos de tratamento ou pela perda de animais de alto valor para competições.

A pesquisa foi feita a partir de testes que compararam grupos homogêneos, com a mesma doença e com as mesmas condições cirúrgicas. Enquanto um grupo passou pelo protocolo fisioterapêutico com aplicação de gelo e com a movimentação passiva, o outro foi mantido em repouso nas baias, apenas com a movimentação realizada pelo animal de forma natural, indicação que normalmente é feita. Como os animais são internados para esse procedimento, e ficam no Hospital Veterinário durante, em média, cinco dias, o protocolo realizado em um grupo, e o repouso de outro foram administrados nesse período.

Apesar de a recuperação ter sido muito parecida em ambos os grupos, os animais que realizaram a imediata fisioterapia apresentaram uma recuperação de maior qualidade. O professor Luiz Claudio explicou que essa comparação não é feita em relação à rapidez da recuperação, e, sim, a diversos parâmetros que são analisados. Entre esses parâmetros, estão a temperatura, a circunferência e movimentação da articulação, e também o líquido sinovial (presente nas cavidades articulares) e sua qualidade. No geral, analisando todos esses parâmetros, foi observado que os animais tratados de forma mais imediata apresentaram resultados melhores.

Esses resultados indicam que, diferente do que é recomendado atualmente, o ideal é que a fisioterapia seja realizada logo no dia da cirurgia. Luiz Claudio aponta que esse tipo de dúvida é comum na rotina da medicina veterinária e que, para comprovar ou contrariar procedimentos  que são realizados apenas por precaução, as pesquisas e testes são necessários. Como neste caso, algo que poderia não ser feito por receio, pode se mostrar eficaz e preferível ao procedimento considerado, até então, correto.

Na FMVZ da USP, o protocolo já está sendo colocado em prática para casos semelhantes. Após o período de aproximadamente cinco dias de pós-operatório, uma terapia adicional é receitada, específica para cada caso e para cada situação.

Para ler mais sobre a artroscopia em equinos, acesse: Estudo amplia métodos de distensão articular em cirurgia animal