ISSN 2359-5191

04/09/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 87 - Saúde - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Estudo usa fotografia para garantir a segurança de pacientes
Construção de narrativa imagética identifica e propõe reflexão acerca de problemas na administração de medicação
http://www.equipeenfermagem.com.br/enteral.php

“Pediatra receita remédio ácido como se fosse colírio para bebê”; “Erro em farmácia faz mulher tomar remédio para câncer por três meses”; “Café com leite na veia e ácido no lugar de sedativo causaram mortes e sequelas em hospitais”; “Mortes em hospitais e erros médicos marcaram a área da Saúde em 2014”. A última década foi marcada pela denúncia de erros de administração de medicamentos em unidades de saúde. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% dos pacientes internados sob cuidados intensivos sofrem com a ocorrência de incidentes quando da prescrição ou administração de medicação. No Brasil, entretanto, calcula-se que os erros em hospitais alcancem 30% dos casos.

Com o objetivo de compreender os processos de preparo e ministração de medicamentos por sonda, Fernanda Raphael Escobar Gimenes desenvolveu o projeto de pesquisa Conte-me, mostre-me: o uso de métodos da pesquisa fotográfica na segurança dos pacientes em uso de sonda enteral. O estudo utiliza o método fotográfico para a identificação de problemas e orientação de soluções no que diz respeito à temática. Elaborado pelo Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP - USP), o projeto faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisa em Segurança do Paciente, criado em 2008 e liderado pela Profa. Dra. Maria Helena Larcher Caliri.

Etapas de desenvolvimento

A pesquisa foi realizada em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (Ilpi) do município de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e dividida em quatro fases. Em um primeiro momento, foram realizadas entrevistas com profissionais de enfermagem que atuavam no Ilpi, a fim de incitar discussões sobre as práticas, normas e rotinas do preparo e administração de medicação por catéter enteral (sonda). À partir da análise das entrevistas, foi elaborada uma lista dos problemas observados por essas profissionais.

Na segunda fase, os principais problemas foram registrados através de fotografias e narrativas visuais. Ou seja, a equipe de pesquisa acompanhou e fotografaram as profissionais da Ilpi durante momentos de seu trabalho diário que envolviam a medicação de pacientes, com o objetivo de reavaliar os problemas identificados na fase um da pesquisa. As imagens, foram utilizadas e avaliadas na terceira fase, e apresentadas às enfermeiras participantes do estudo, com o objetivo de suscitar reflexões acerca de possíveis mudanças a serem implantadas no manuseio de medicamentos.

Na quarta e última fase, deu-se a realização de entrevistas com as participantes, a fim de compreender os impactos da realização da pesquisa, no que diz respeito às mudanças nos processos de medicação de pacientes. Posteriormente, Fernanda e uma equipe formada por duas graduandas retornaram ao local e, novamente, fotografaram as profissionais na realização de suas atividades, com a finalidade de constatar mudanças no preparo e administração de medicamentos.

Desafios e Realidade Nacional

Segundo Fernanda, uma das maiores dificuldades dos profissionais de enfermagem diz respeito a estrutura física do posto de enfermagem, que permitia o fácil acesso aos medicamentos pelos usuários. , embora a pesquisa ainda esteja em estágio de análise de dados, é possível concluir que ela promoveu mudanças nos processos de preparo e administração de medicações por sonda. Houve, ainda, alterações físicas na estrutura da unidade que impossibilitam o acesso dos usuários aos medicamentos, favorecendo a segurança dos pacientes. “Os métodos fotográficos, incluindo as narrativas visuais, são viáveis e desejáveis para o gerenciamento dos riscos, porque favorecem a construção de um conhecimento coletivo, a troca de experiência e a reflexão acerca do que não vai bem, mas que pode ser melhorado”, afirma a pesquisadora.

Estabelecer o diálogo entre administradores e profissionais que atuam em contato direto com os pacientes também é uma estratégia defendida por Fernanda. Segundo ela, serviços de saúde devem adotar um comportamento mais aberto e imparcial que permita compartilhamento das informações de maneira franca e justa. “Estilos autoritários de supervisão, onde as opiniões e as necessidades dos profissionais são desconsideradas, onde há feedback negativo e falta de diálogo entre as pessoas, ocasionam o estresse organizacional e acarretam a insatisfação, baixa produtividade e comprometimento da qualidade da assistência”, diz.

Outra lacuna apontada por Fernanda está na defasagem da formação do profissional de enfermagem no que diz respeito à temática. “É preciso investir na formação dos estudantes de enfermagem porque eles precisam entender como os sistemas impactam na qualidade da assistência e na segurança dos pacientes”, afirma. Algumas universidades têm buscado incluir disciplinas de segurança do paciente em sua grade de graduação, porém, segundo Fernanda,  a carga horária destinada é modesta. “A responsabilidade pela segurança do paciente é de todos. Deste modo, universidades e instituições de saúde devem estar comprometidos com o desenvolvimento contínuo dos recursos humanos, em favor da qualidade do cuidado e da segurança do paciente”, afirma a pesquisadora.

A finalização do projeto de pesquisa está prevista para o segundo semestre de 2015 e será apresentado em forma de TCC, que será produzido pelas alunas Ana Paula Gobbo Motta e Juliana Magalhaes Guerreiro, bolsistas do projeto e integrantes da equipe de pesquisa.

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