Qualquer pessoa que já tenha ido a um museu de história natural consegue se lembrar do cenário que encontrou ao entrar no estabelecimento. Diferente de museus de arte, o que está exposto nas vitrines não são pinturas ou obras: são animais empalhados. Mas afinal, qual seria a função desses bichinhos? Estariam eles lá apenas para servir de ilustração ou poderiam eles comunicar alguma informação científica?
A pesquisadora Mariana Soler, do Instituto Butantan, optou por fazer uma proposta de estudo pouco habitual para o campo da museologia: discutir o animal como objeto fisiológico dentro do processo de musealização. Para seu mestrado, ela analisou três museus que falavam sobre a evolução biológica - Museo de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia, Museo de La Plata (ambos na Argentina) e Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Graduada em biologia, Mariana dividiu sua pesquisa em dois momentos: visitar e descrever as exposições (a partir de uma metodologia própria), e depois fazer a análise dos animais lá representados, relacionando com os conteúdos que estes pretendiam comunicar.
Museo Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia / Crédito: Divulgação
A estudiosa percebeu que os conceitos sobre evolução estavam presentes nas exposições somente em formato de textos. “Os animais estão lá apenas como ilustração para os textos, então eles servem para ilustrar e dar materialidade para a informação”, conta. “Os conceitos presentes, como seleção natural, tempo geológico e deriva genética não estão presentes no objeto”.
A dependência de textos seria derivada do alto grau de complexidade dos conceitos abordados. “Os textos têm a capacidade de resumir uma grande quantidade de informação”, explica. Mariana, porém, faz críticas ao modo em que o conhecimento é exposto: “Espera-se que o visitante vá lá para se nutrir de informação, pouco se conversa ainda sobre ter diferentes pontos de vista, apresentar controvérsias. No museu a exposição está fechada, conceitualmente montada e com uma leitura particular de seus curadores, que em geral têm uma visão científica”.
Mariana defende a maior autonomia dos animais exibidos e relata que é possível utilizá-los para transmitir informações. “Conceitos mais simples, como o da seleção natural, poderiam ser exemplificados a partir de objetos, inclusive porque eles foram entendidos a partir do estudo desses animais”.