O Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia-Iguape, localizado no litoral sul de São Paulo, integra uma importante reserva ambiental e um ecossistema costeiro extremamente produtivo. A região guarda o canal do Valo Grande, construído há mais de 160 anos, que liga a água doce do rio Ribeira de Iguape ao mar. Através desse canal, muitos nutrientes chegam ao estuário, bem como metais e outros elementos pouco solúveis.
O pesquisador do Instituto Oceanográfico, Vitor Gonsalez Chiozzini, dedica sua pesquisa de doutorado a estudar os Elementos Terras Raras (elementos com números atômicos entre 57 e 71) presentes nos sedimentos da região. Chiozzini explica que o estudo desses elementos quanto ao conteúdo, relações, possíveis anomalias, e interações com outros parâmetros sedimentológicos torna-se uma ferramenta importante para a interpretação de padrões geoquímicos naturais e induzidos pela atividade humana. “As associações dos ETR com outros elementos, tanto essenciais como o fósforo, quanto tóxicos em baixas concentrações como o chumbo, o cádmio, o mercúrio e o crômio, também são utilizadas para interpretar níveis naturais, a amplitude de possíveis efeitos antrópicos e o risco ao qual está submetida a zona mais preservada, ao sul do complexo estuarino.”
Para realizar o estudo, a pesquisa recolheu amostras de sedimento de regiões estratégicas ao longo do complexo e na região costeira adjacente. Também foram coletados perfis do sedimento que possibilitassem avaliar como alterações conhecidas (como a construção e evolução do canal do Valo Grande) influenciaram mudanças em processos naturais ao longo do tempo. Segundo Chiozzini, um trabalho em conjunto do Instituto Oceanográfico, do Instituto de Química e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares está sendo realizado para determinar o conteúdo dos ETR e de outros elementos como ferramenta para a sua pesquisa.
Até agora, a pesquisa verificou anomalias de ETR no setor norte do complexo, onde há maior influência da água que deságua do rio Ribeira através do Valo Grande. Ele explica que no setor sul, região mais preservada, a análise dos perfis não mostrou variações significativas ao longo do tempo que indicassem consequências da ação humana. Mas os resultados do setor norte indicam a necessidade de acompanhamento das alterações ambientais que estão ocorrendo no sistema.
Chiozzini afirma que esse estudo é importante por demonstrar a utilidade dos ETR como ferramentas na interpretação de dados geoquímicos, evidenciando a forma como a ação do homem afeta o sistema. “Tais informações podem ser utilizadas na prevenção de riscos aos quais o sistema estudado está sujeito, e na tomada de decisão pelo poder publico no sentido da preservação ambiental da região.”