Em um dos países onde as crianças passam menos tempo na escola, os graduandos de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental (LiGEA), do Instituto de Geociências da USP, desenvolveram um projeto nada ortodoxo para aumentar a carga horária dos alunos do Fundamental I (do 1º ao 5º ano) e II (do 6º ao 9º ano). Construir maquetes de vulcões e do Sistema Solar estão entre as atividades da iniciativa “Ensino da Geociência no Contraturno Escolar”, já em andamento na Escola de Aplicação, da Faculdade de Educação.
No Brasil, os jovens passam cerca de quatro horas por dia na unidade de ensino, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), proposta pelo Ministério da Educação, pede a ampliação desse tempo, principalmente no se refere ao contraturno escolar. Como próprio o nome já diz, trata-se do período contrário às atividades do turno escolar — matutino ou vespertino —, preenchido por projetos interativos que conversem e completem os conteúdos dados, por essência, de sala de aula.
“Todo projeto é desenvolvido de acordo com o que as crianças escolhem”, diz Dayane Gomes da Silva, uma das responsáveis pelo programa de contraturno do LiGEA. “No nosso primeiro encontro, apresentamos para as crianças o que é ciência da terra, e elas escolhem dentro das opções que damos três temas para trabalharem conosco ao longo do semestre. As atividades são todas práticas, elaboradas por nós mesmos junto aos monitores, voluntários ou bolsistas”, explica.
A iniciativa surgiu em 2010, sob a orientação da professora Denise de La Corte Bacci, atual coordenadora do curso de Geologia do IGc. Em parceira com a Escola de Aplicação, da Faculdade de Educação da USP, o projeto do Ensino da Geociência no Contraturno Escolar vem sido colocado em prática junto aos alunos da instituição. Em outra oportunidade, Dayane e seus colegas levaram o programa à Escola Estadual Clorinda Danti (Av. Corifeu de Azevedo Marques, 2700), mas, diante dos entraves financeiras, não foi possível continuar com a proposta por mais de um semestre.
Na sala de aula
Entre os temas mais procurados pelas crianças estão astronomia, palentologia, tempo geológico, petróleo e minerais. As atividades propostas a partir da escolha dos assuntos a serem tratados seguem na linha do construtivismo e procuram instigar a curiosidade do aluno, levando-o a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com os modelos didáticos de cuja confecção eles mesmos participaram.
Jogos, modelos, contação de histórias e dinâmicas são as ferramentas de trabalho em sala de aula, quando não extrapolam seus limites e vão explorar o que a cidade de São Paulo e a própria universidade podem oferecer. Todas essas atividades estão interligadas, criando uma linha lógica de raciocínio.
“A explicação teórica vem em cima das atividades que as crianças estão fazendo. Por exemplo, quando fazemos um experimento com a maquete de um vulcão em erupção, nós sentamos com os alunos durante o processo de efervescência e perguntamos para eles coisas como ‘Por que a lava está saindo daquele vulcão?’, ou ‘O que está acontecendo neste processo?’, e vamos trabalhando em cima das ideias e respostas deles a essas questões”, explica Dayane, quanto aos métodos construtivistas do projeto.
Dessa forma, os educadores trabalham conteúdos já tratados no turno escolar, mas de forma mais sistêmica, que procura dar uma visão mais “conectada” do mundo as crianças, segundo Dayane. “Elas conseguem relacionar melhor as coisas e ter uma visão maior do todo”, diz ela. Para Daniele Batista da Silva, outra precursora do trabalho, o maior retorno vem dos próprios alunos: “Eles chegam mais críticos à sala de aula”, encerra.