O pesquisador Leonardo Belinelli, doutorando da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) vem desenvolvendo pesquisa a respeito do pensamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), e como as suas ideias se adaptaram com o tempo.
Presidente do Brasil de 1995 a 2002, o sociólogo carioca passou a ser conhecido mundialmente nos anos 60, quando do início da ditadura no Brasil e de seu exílio no Chile. Nesse período se aproxima de intelectuais como Francisco Weffort, Celso Furtado e José Medina Echeverría e publica, ao lado de Enzo Faletto, aquele que se tornaria seu trabalho mais conhecido, Dependência e Desenvolvimento na América Latina.
Belinelli explica que, nesse momento, surgem as ideias que estruturariam seu pensamento e conduziriam também às políticas econômicas aplicadas em seus dois mandatos. “Esse livro traz uma novidade muito importante. Primeiro faz um panorama da relação entre economia e política nos países da América Latina e um diagnóstico sobre as mudanças do capitalismo contemporâneo”, explica. Aí então é que ele vai dizer: o capitalismo mundial entrou numa nova fase, uma fase na qual as grandes empresas multinacionais passam a entrar nos mercados dos países periféricos, e isso implica dizer, ao contrário de intelectuais como Celso Furtado, pra quem eram necessárias as reformas de base para o desenvolvimento econômico do país, que o país poderia se desenvolver via associação com o capital estrangeiro. Essa é a ideia que ficou conhecida como desenvolvimento dependente associado”.
Para o ex-presidente, o país deveria se inserir nas cadeias produtivas globais através do capital estrangeiro ao invés de tentar, em vão, proteger a indústria nacional, o que seria impossível em um mundo globalizado. Assim, como defendem alguns intelectuais, seus oito anos de governo se mostram, bem ou mal, coerentes com a sua formulação teórica. Marcados pelo Plano Real, pelas altas taxas de juros, pelo aporte financeiro internacional e pelas medidas privatizantes, eles foram, de algum modo, a aplicação prática daquilo que ele vinha defendendo no papel há algum tempo.
“Essa maneira de analisar o Brasil do FHC continua até hoje. Ele diz: ‘Olha, não devemos proteger a indústria nacional, porque os industriais brasileiros não têm interesse ou capacidade para fazer um processo de desenvolvimento do país. E com variações, esse é o argumento que ele usa para atacar, por exemplo, as políticas do governo Dilma, que tentou proteger a indústria”, explica Leonardo.
Para concluir, o pesquisador discorre sobre as críticas a respeito da obra FHC, bem como sobre sua contemporaneidade: “Por motivos muito compreensíveis, o Fernando Henrique é uma pessoa que desperta polêmicas, paixões. Mas a gente deve fazer um esforço para entender o que ele está dizendo. Podemos não concordar, mas interessa destacar que é uma visão sofisticada e que deve ser levada a sério. Então, qualquer pensamento que se pretenda contemporâneo e superior, precisa sempre se debater com o que há de melhor, e nesse aspecto o ex-presidente é muito importante, muito atual”.