São Paulo (AUN - USP) - O enfermeiro pode colaborar de forma eficaz na retirada de crianças das ruas. Essa foi a conclusão a que a professora Moneda Oliveira Ribeiro, da Escola de Enfermagem da USP, chegou com sua tese A criança de/na rua em idade escolar: um olhar sobre sua trajetória de vida, na qual ela defende uma maior atuação dos profissionais de enfermagem em programas de ajuda a menores carentes.
“O enfermeiro é, de certa forma, responsável por essas crianças, a partir do momento em que é um profissional capacitado e apto a ajudá-las e, muitas vezes, se omite”, afirma a professora, que continua: “Essa omissão contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente”. De acordo com o parágrafo VI, do Artigo 88 desse Estatuto, é indispensável a mobilização da opinião pública “no sentido da indispensável participação de diversos segmentos da sociedade” para o bem-estar do menor.
Para desenvolver esse trabalho, que levou um ano para ser concluído, a pesquisadora Moneda entrevistou individualmente 14 crianças em idade escolar que estavam freqüentando abrigos públicos da cidade de São Paulo. “No começo foi difícil, porque eu tive de lidar com o meu próprio preconceito”, conta a professora, “mas depois as crianças criaram confiança em mim e o que eu pude identificar é que a violência permeia a vida dessas crianças e o resultado é uma grande perda em sua auto-estima.”
De acordo com a professora, é nesse momento que o enfermeiro tem a responsabilidade social de agir, oferecendo a essas crianças um tratamento médico diferenciado, respeitando suas condições sociais. “É importante que a criança não se sinta apenas mais uma. Ela precisa de uma individualidade e o enfermeiro pode dar-lhe isso, além de poder encaminhá-la a assistentes sociais, psicólogos..., desempenhando um excelente papel de triagem. Mas o que acontece é que, nos hospitais, não há esse tratamento diferenciado.” A Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, da Assembléia Geral das Nações Unidas, assegura, segundo o Princípio 5º, que “à criança incapacitada física, mental ou socialmente serão proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais exigidos pela sua condição peculiar.”
No último boletim divulgado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), em 1997, o Brasil aparece entre as dez maiores taxas de mortalidade infantil da América Latina, com dados que revelam uma estreita ligação entre o estado de saúde da população, o acesso aos serviços e a qualidade de atendimento médico. “O enfermeiro tem que estar preparado para lidar com essas pessoas. Para isso, é preciso que eles saiam às ruas e não fiquem confinados em hospitais. Nossa atuação é tão fundamental quanto a de médicos, assistentes, entidades filantrópicas e agentes governamentais.” Para a professora Moneda, o profissional de enfermagem deve agir. “Sua omissão, agora, é imperdoável”.