O curso de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP), de modo geral, não prepara seus alunos para dar aulas no ensino médio. Foi o que concluiu a professora Cassiana Takagi em seu estudo analítico sobre a importância dada ao bacharelado e à licenciatura na área.
Bacharelado é um grau acadêmico obtido após a conclusão do primeiro ciclo de um curso do ensino superior. Já a licenciatura inclui disciplinas da área de educação ao curso escolhido e habilita seu titular a ser professor em escolas de Ensino Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio
A tese de doutorado Formação do professor de Sociologia do ensino médio: um estudo sobre o currículo do curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, elaborada e defendida na Faculdade de Educação da USP (FE), analisou a estrutura do curso desde que foi criado, em 1934, até os dias atuais. Cassiana observou que, nas décadas de 1930 e 1940, o curso de sociologia apresentava um equilíbrio maior entre a articulação do bacharelado com a licenciatura. Esta organização tornou-se mais desigual ao longo dos anos e, hoje, o bacharelado é feito em quatro anos e a licenciatura em um ano e meio.
O tempo dedicado à formação do professor é curto, na visão da professora. “O propósito do bacharelado não é formar professor. Então, não se discute, ao longo dos quatro anos, qualquer coisa relacionada a isso”, afirma. Desta forma, o aluno só vê a possibilidade de dar aulas quando chega no final do curso. A tendência, portanto, é que se formem muito mais pesquisadores e colaboradores de ongs do que docentes do ensino médio.
Efeitos das políticas públicas para a educação
Desde 2008, a disciplina de sociologia se tornou obrigatória nas escolas de São Paulo, passando a estar presente em todas as séries do ensino médio em 2011. Até então, nas escolas particulares que a possuíam em seu currículo, as aulas eram dadas também por professores de filosofia, numa proposta de caráter transdisciplinar. Segundo a pesquisadora, para que haja uma abordagem mais particularizada dos aspectos sociológicos, é necessário percorrer um caminho que supere adversidades como a da formação do docente.
Ainda de acordo com Cassiana, outro aspecto que vem sendo adaptado pelos órgãos educacionais é o material didático, único apoio de ensino disponível ao professor atualmente. O atual modelo não apresenta uma linguagem acessível aos alunos e carece de alterações.
Dificuldades e avanços
A maior dificuldade encontrada pelo professor recém-formado é adaptar a linguagem do complexo e vasto conteúdo aprendido para a compreensão plena dos alunos. Outro ponto é a seleção do que será ensinado entre tudo que o licenciado viu durante o curso. “Hoje, o professor que chega no ensino médio acaba selecionando os temas que ele gosta”, aponta Cassiana. Assim, segundo ela, os docentes passam a oferecer o que acharam mais relevante ao longo de sua formação.
O cenário atual indica algumas mudanças daqui para frente. Os alunos que entrarão no ensino superior para cursar ciências sociais já terão conhecimento de como a disciplina é ministrada do ensino médio. Além disso, as pesquisas que vêm sendo realizadas começam a trabalhar com uma realidade concreta e organizada, diferente de quando não havia a obrigatoriedade da disciplina nas escolas.