Os professores de física do ensino médio precisam superar situações muito delicadas referentes ao comportamento de seus alunos antes de efetivamente transmitir o conhecimento teórico que adquiriram na faculdade. Nestes momentos, é exigida uma capacidade de criação e improviso até então desconhecida pelo docente recém-formado. É o que aponta um estudo qualitativo realizado na Faculdade de Educação da USP (FE).
Durante um ano, cinco estagiários de licenciatura no curso de Física da USP foram observados durante suas aulas em escolas da rede pública pelo professor Leonardo Testoni para compor a tese de doutorado Caminhos criativos e elaboração de conhecimentos pedagógicos de conteúdo na formação inicial do professor de física. Com a pesquisa, foi possível elaborar um referencial teórico para estudar a criação do professor inexperiente, indicando suas dificuldades e os caminhos tomados para lidar com situações novas.
Testoni afirma que os momentos inesperados pelo docente em sala de aula geram necessidades que o fazem buscar novos repertórios para realizar criações que o auxiliem, perspectiva estabelecida a partir da Teoria de Equilibração de Jean Piaget e dos Caminhos Criativos de Lev Vygostky. Dentre as situações que perturbam a atividade do docente, Testoni define três que classifica como legítimas para a criação. A primeira diz respeito à indisciplina dos alunos. Devido à preocupação maior com a “sobrevivência didática” (manter a integridade emocional ao lidar com jovens indisciplinados), o professor acaba dando menos atenção à eficiência da aprendizagem e à eficácia de sua metodologia de ensino.
O segundo ponto que se apresenta como barreira é a matematização. Ao reparar que os alunos perdem atenção, o professor tende a retirar os cálculos necessários à continuidade do raciocínio de física, acarretando, na visão de Testoni, uma perda grave. “O professor acaba ensinando uma física enviesada, tirando sua modelagem matemática”, afirma Testoni. “Ele fica só nos fenômenos, e a física não é só isso”. Já a terceira situação diz respeito ao tempo didático (capacidade do docente de ensinar o conteúdo pretendido no período disponível). Em sua pesquisa, Testoni percebeu que há casos em que o conteúdo é transmitido em um tempo muito menor do que o planejado, e o professor tem o desafio de preencher os vários minutos restantes até o fim da aula.
Como solução, Testoni defende que o período de estágio do licenciando dure pelo menos dois anos, para que ele consiga se familiarizar mais com o ambiente da sala de aula. “A gente notou que os conflitos são muito profundos nos estagiários, então um ano ou seis meses é muito pouco pra você conseguir trabalhar, refletir e discutir com eles”, afirma. Defende também que, desde o primeiro ano de faculdade, o aluno seja colocado diante de situações inéditas ou corriqueiras em sala de aula, para que ele já tenha noção do ambiente em que vai trabalhar.
Com o resultado da tese, foi possível apontar caminhos para o professor de Física. Se ele possuir um forte repertório, dominar o conteúdo da disciplina de Física e apresentar uma experiência prática bem desenvolvida, torna-se mais fácil desenvolver um alto grau de criatividade e inovação para que haja interações positivas na sala de aula.