O Instituto de Geociências (IGc) da USP trouxe o geólogo da Unicamp e especialista em geociência com ênfase em geoquímica, Bernardino R. Figueiredo e a especialista em Saúde pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Gabriela Di Giulio para aparesentarem a Geologia Médica e Sociedade de risco.
A Sociedade de risco, de acordo com a Tese de Ulrich Beck, é uma sociedade pós-industrial, na qual há produção social de riscos e lógica de distribuição dos riscos ou situações sociais de perigo na sociedade. “Na modernidade avançada, a produção social de riqueza vem acompanha da pra produção de risco”, diz Figueiredo. A geologia médica surge nesse contexto.Os estudos nesse campo propiciam a prevenção de doenças e, consequentemente, economia de recursos no setor de saúde pública. No entanto, o professor afirma que no Brasil ainda não há uma cultura de prevenção de doenças.
De acordo com Figueiredo, com a atual crise ambiental global há maior preocupação e debates sobre os riscos, e grandes avanços na química analítica. São inúmeros os elementos tóxicos que entram em contato com o ser humano todos os dias, e se depositam em seu organismo, o que pode causar sérios danos. O mercúrio (Hg), o arsênio (As) e o chumbo (Pb 2+) são alguns dos principais e uma das funções da geologia médica é pesquisar como esse elementos ocorrem na natureza – fórmula química, em qual estado da matéria se encontram, em maior abundância, se estão em sua forma mais tóxica – e suas formas de contaminação.
Entre as funções do geólogo no contexto da geologia médica e da sociedade de risco a fim d suprir essa falha na cultura de prevenção estão a caracterização de fontes de emissão, monitoramento ambiental e biológico (desenho de pesquisa epidemológica e estratégia de amostragem), além da comunicação e gerenciamento do risco. Para tal, Figueiredo aponta a necessidade de um trabalho interdisciplinar, uma vez que a geologia não abarca todos esses conhecimentos. Portanto, a geologia médica requer trabalho conjunto de geocientistas com especialistas de outras áreas como químicos, biólogos, engenheiros e geógrafos. As pesquisas interdisciplinares procuram esclarecer se há e quais são as prováveis relações entre fatores geológicos ambientais e a qualidade da saúde humana e dos demais seres vivos. Assim, as equipes multidisciplinares visam ao encaminhamento das pesquisas não apenas na área da geologia, mas também da saúde. Porém, Figueiredo declara que faltam investimentos na educação de geologia médica, uma vez que não há cursos específicos para tal nas universidades.
Curso na FSP
Gabriela Di Giulio explicou que o debate sobre sociedade de risco tem início com o acidente nuclear na usina de Chernobyl, em 1896. O ocorrido evidenciou o despreparo dos especialistas com relação à estimativa dos riscos e ao amparo das pessoas atingidas. Gabriela, ao falar da invisibilidade imediata do risco pela sociedade, presente na Tese de Beck, explicou que são necessários técnicos e especialistas para identificá-los e, assim, minimizá-los. Ela ainda ressaltou a importância da ciência para a conscientização dos riscos. Uma vez que têm alcance global, o desconhecimento preciso de suas causas e consequências pode fazê-los incontroláveis e irreversíveis. Gabriela alertou que a maioria dos cursos de geociênciais não abarcam esse assunto.
Atualmente, a Faculdade de Saúde Pública oferecerá um novo curso de mestrado profissional em“Ambiente, Saúde e Profissionalidade”, que poderá complementar a formação dos profissionais que lidam com riscos, em especial, o geólogo. Há três linahs de pesquisa disponíveis: Gestão ambiental e sustentabilidade urbana, Gestão em serviços de saneamento ambiental e Vigilância em saúde ambiental e do trabalhador. Mais informações pelo site http://www.fsp.usp.br/site/paginas/mostrar/2504. No menu do lado esquerdo encontram-se mais opções de busca sobre o curso.