São Paulo (AUN - USP) - Um programa de pesquisa sobre ensino de cartografia para cegos e pessoas com baixa visão vem sendo desenvolvido pelo Laboratório de ensino e material didático (LEMADI), ligado ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Surgido inicialmente como um Programa de Ensino Integrado, em 1989, o projeto foi fundado a partir dos trabalhos da tese de doutorado da professora Regina Araújo de Almeida, A cartografia tátil e o deficiente visual – uma avaliação das etapas da produção e uso do mapa, aprovada em 1993. Pesquisou-se e desenvolveu-se uma linguagem visual e tátil que foi aplicada em representações gráficas – principalmente em mapas – utilizadas na instrução dos deficientes visuais.
Hoje já consolidado como um Núcleo Permanente, o projeto desenvolve, além de metodologia de ensino, técnicas para construção dos materiais didáticos. Realiza, também, a confecção de muitos desses materiais: mapas em alto relevo, moldados em “thermoform” ou com zonas em texturas diferenciadas, legendas com rótulo em braile, pirâmides etárias concretamente erguidas e até uma bússola para cegos são alguns dos instrumentos criados pelo laboratório para auxiliar no ensino.
Em 1994, graças à realização do IV Simpósio Internacional sobre Mapas e Gráficos para Deficientes Visuais, foi possível o estabelecimento de convênios do projeto com instituições da Argentina e do Chile. Convênio que, mais tarde, garantiria o respaldo do projeto, apesar da saída da professora Regina em 1998, deixando-o nas mãos da técnica responsável Waldirene Ribeiro e da pesquisadora Carla Sena.
“Todo projeto de pesquisa precisa ter um doutor em sua orientação”, explica Sena. Como ela ainda é aluna do doutorado, o projeto não poderia ter prosseguimento se não houvesse a participação dos doutores latinos. Em 2002, a parceria se consolidou, e foi criado o Centro de Cartografia Tátil, com sede em Santiago e financiamento da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Existe uma universalidade por parte da cartografia tátil: ela é útil inclusive para as pessoas com visão plena, por ser extremamente didática e “visualmente mais agradável”, como diz Waldirene. O único problema é que, por ter como alvo principal os deficientes visuais (ou DVs, como também são chamados), a representação tátil não pode conter muitos detalhes, o que faz com que seja muito generalizada, simplista e até sujeita a erros em certos aspectos. Assim, no caso das pessoas com visão normal, é adequada “principalmente para crianças”, afirma Carla.
A pesquisadora diz que, através do método do tato, os deficientes visuais de nascença poderiam aprender tanto quanto uma pessoa com visão normal. “Mas há o fator social, que pode prejudicar”, diz Sena. Muitos DVs com visão parcial não se aceitam como tal e, assim, não querem se submeter aos métodos especiais de ensino.
Todo esse trabalho tem seu braço de extensão: o laboratório oferece cursos para transmissão desse conhecimento. A estratégia é, como gosta de dizer a pesquisadora Carla, “o efeito multiplicador”. Daí o motivo de as aulas se focarem no trabalho com professores e não com alunos. No entanto, o último curso ministrado foi há dois anos, devido ao pequeno número de membros do grupo no Brasil: são só Carla e Waldirene, que têm diversos outros projetos envolvendo o LEMADI.