Fundado em 1922, o Partido Comunista Brasileiro viveu um período de crescimento e diversas mudanças internas até 1935, quando, após liderar um levante, foi temporariamente aniquilado por ordens federais. A documentação sobre as ações e propostas do PCB no período existe em número razoável e não é de difícil acesso. Mas o mesmo não ocorre com a história interna do partido, com dados sobre o fluxo de militantes ou sobre o uso de frentes de massa, por exemplo. Visando suprir essa carência, Apoena Canuto Cosenza tratou do tema em sua dissertação de mestrado “Um partido, duas táticas: uma história organizativa e política do PCB entre 1922 e 1935”, entregue ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
“Já existem estudos sobre partes do período de 1922 a 1935, utilizando diferentes abordagens. No entanto, a bibliografia estudada não tratou de forma contundente a história organizativa do PCB, e daí falta uma teoria explicativa para ela”, diz o autor, que considera tais informações cruciais para fazer uma análise teórica da história do partido.
Segundo Apoena, pode-se distinguir, a um primeiro olhar, a história organizativa do PCB em dois períodos. “De 1922 a 1929, houve a adoção de um eixo tático subcultural, ou seja, o partido buscava conquistar o posto de representante máximo das classes oprimidas. De 1930 a 1935, houve o turbulento abandono desse eixo tático, seguido pela adoção do estilo de lutar direta pelo poder”, diz. Esses dois períodos ainda seriam divididos em duas fases cada, marcando a trajetória do partido na época por quatro mudanças na sua linha estratégia.
O resultado disso seria uma constante crescente tanto no número de novas filiações ao PCB quanto no número de desligamentos, marcando assim um caráter rotatório da militância, com poucos membros permanecendo por muito tempo nas fileiras do partido. Em termos organizacionais, o PC brasileiro se tornou mais complexo, se observado do ponto de vista de número de órgãos, instâncias, e inserção em frentes de massa. Ainda assim, a direção teve grandes dificuldades em dar coesão a essa complexidade crescente. “Era comum a direção reclamar para as instâncias inferiores de falta de relatórios consistentes, ou da falta de trabalho político. o resultado foi a constante perda de influência. O trabalho conquistado em um ano tendia a praticamente se perder por completo um ano e meio depois”, finaliza.