ISSN 2359-5191

20/02/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 132 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Relação de brasileiros com a morte já foi mais alegre, diz pesquisa

Os rituais fúnebres graves e tristes aparecem nos dias de hoje como a única manifestação possível sobre a perda - a morte - de alguém. Entretanto, um estudo desenvolvido com o intuito de abordar as práticas e simbologias que envolviam os rituais fúnebres em São Paulo acabou por mostrar que houve mudanças substanciais na maneira como a população lidava com a morte. A pesquisa foi desenvolvida por Breno Henrique Selmine Mantragolo em sua dissertação de mestrado “Formas de bem morrer em São Paulo: transformações nos costumes fúnebres e a construção do cemitério da Consolação”, entregue ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

“Nesse sentido, o século 19 pode ser visto como um período de transição entre dois tipos de relação entre os vivos e os mortos. Durante os três primeiros séculos da colonização portuguesa, os funerais eram pomposos, festivos, e atraíam grande número de presentes, entre padres, músicos, pobres, parentes, amigos e estranhos”, diz o autor. “Contudo, a partir do século 19, podemos ver um distanciamento dessa visão, como um reflexo da maior secularização da sociedade brasileira na época”, continua.

O autor começa a observar a mudança a partir de uma proibição que causou polêmica nas primeiras décadas deste século. Com o desenvolvimento do saber médico, o sepultamento dos mortos em igrejas, considerado um dos pilares da Boa Morte cristã e defendido como garantia de salvação na vida após a morte, passou a ser visto como um problema para a saúde pública, e passou então a ser defendida a construção de cemitérios afastados dos centros urbanos. A proposta foi recebida com muito protesto pela população paulistana.

Os debates para a construção do Cemitério da Consolação se iniciaram em 1829, mas a necrópole foi inaugurada somente em 1858. “A própria demora da Câmara em construí-lo deve ser entendida como consequência da resistência popular a essas mudanças, que iam contra um costume profundamente arraigado”, diz Breno. Mesmo assim, segundo ele, a abertura do cemitério não aconteceu de forma pacífica.

“Apesar da crescente secularização e do discurso médico terem avançado consideravelmente nas décadas de 1820, 1830 e 1840, somente com as epidemias de febre amarela e do cólera-morbo, que assolaram o império em meados do século, que os adeptos do cemitério municipal tiveram forças para levá-lo adiante”, diz. “Apesar da existência de uma epidemia de varíola na cidade naquele período, diversas vozes se manifestaram contra a construção à época de sua inauguração”, continua.

A maioria das críticas era à necessidade de exclusivismo que tinha o regime municipal, e para a obra sair do papel, algumas concessões tiveram de ser feitas. “Se não acabaram com o exclusivismo, a Câmara e o governo provincial tomaram diversas decisões no sentido de melhorar a infraestrutura e os serviços prestados no cemitério. Através dela, parte dos clamores populares perdeu intensidade”, diz Breno. Ele destaca ainda outro fator importante para a aceitação da reforma. “Contribuiu também nesse caminho a possibilidade da manutenção de certa memória com a concessão de jazigos perpétuos e familiares, situação que era inviável antes disso e que acabou sendo um dos fatores de convencimento das classes altas e médias em sua adesão ao novo campo santo.”

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