Continente mais frio e seco do planeta, a Antártica é tema de pesquisa que pretende descobrir como se desenvolveu o clima do continente no último intervalo de tempo geológico, na era cenozóica há 60 milhões de anos. Para tanto, o estudo está tentando averiguar se é possível ler quais são as características paleoclimáticas desse intervalo de tempo, em uma época em que o clima mudou e as geleiras se formaram pela primeira vez tanto no lado ocidental quanto no lado oriental da Antártica. “Foi nesse período que essas duas massas de gelo se fundiram criando um único continente”, explicou o professor Antônio Rocha Campos, do Instituto de Geociência, que coordena o projeto em parceria com o Proantar (Programa Antártico Brasileiro).
Partindo de registros bem documentados na literatura, o que se acreditava era que tanto na Antártica Ocidental como na Antártica Oriental a glaciação teria ocorrido simultaneamente. A hipótese do professor é que não necessariamente isso aconteceu. O objetivo então é descobrir se houve glaciação na mesma época e se ela é capaz de ocorrer em uma área tão extensa ou se são coisas separadas. “O que está acontecendo na Antártica Ocidental não tem necessariamente a ver com o que se está passando na Antártica Oriental”, comentou.
Foram analisados dois registros geológicos de diferentes partes do continente e de acordo com o professor Rocha Campos os resultados até agora obtidos indicam que os registros geológicos existentes na parte ocidental da península não são tão extensos quanto foi descrito na literatura. “Não há dúvida que houve glaciação, mas no momento, a informação é muito restrita. Foram encontradas evidências direta da presença de gelo mas não as rochas que estão descritas na literatura”, disse.
(Foto: www.igc.usp.br)
Segundo o professor, traçar a história de uma variação climática extensa no passado é uma forma de obter entendimento do que está acontecendo na Terra hoje. “Estamos realmente entrando em um período de aquecimento global e isso está refletindo na histórica geológica da Antártica ou não? Como começa uma glaciação? Como termina uma glaciação? Quais as evidências que nós temos para saber se ela está começando, se ela vai aumentar de intensidade ou não? O que estamos procurando é ler o registro deixado nas rochas. Estamos usando o passado como chave do presente”, concluiu.