Materiais orgânicos possuem propriedades que permitem seu uso no tratamento de rejeitos radioativos reais, segundo a pesquisa desenvolvida por Rafael Vicente Padua Ferreira. Utilizando biossorventes, o pesquisador do Ipen mostrou que materiais como fibras de coco, cascas de arroz e café podem ser utilizados para a bioacumulação de metais radioativos. “No mundo há vários centros de pesquisa que estudam a possibilidade de aplicação desses materiais principalmente na remoção de urânio, mas em rejeitos radioativos reais, foi algo inédito”, relata Ferreira.
A ideia do tema de doutorado, segundo Ferreira, surgiu após uma série de estudos prévios que mostraram que uma série de materiais podiam ser usados para acumular elementos radioativos. Foi então que resolveu sair de estudos com simulados de rejeitos radioativos líquidos que eram lidados apenas na parte teórica e testar a aplicação de biossorventes em rejeitos radiativos líquidos reais.
Para isso, Ferreira coletou exemplos dos materiais orgânicos, que foram cedidos por indústrias e obtidos em feiras locais, e realizou um pré-tratamento: lavagem e trituração, a fim de deixá-los homogêneos. Depois de misturar cada material com o rejeito radioativo, analisou se havia concentração ou não do material radioativo no material biológico. “Parte do meu trabalho foi descrever matematicamente como o processo de remoção dos radiotritos estavam ocorrendo, para poder definir qual dessa biomassas seria a melhor para o tratamento de rejeitos radioativos”.
Após o processo, observou que as fibras de coco foram as que tiveram melhor desempenho. Ferreira acredita que isso tenha ocorrido devido a constituição química da superfície da fibra de coco, uma vez que a casca de café acumulou a mesma quantidade de elementos radioativos. Porém, o produto de cimentação da fibra de coco é melhor do que o de café.
Esse fator possui grande relevância, pois as normas de segurança definidas pela Constituição de 1988 pedem que os rejeitos radioativos passem por um processo de cimentação, que tem como finalidade imobilizar o material que contem os elementos radioativos para dificultar a sua liberação no meio ambiente. Assim, a fibra de coco se destacou por apresentar uma melhor compatibilidade com a matriz de imobilização, que é o cimento.