ISSN 2359-5191

09/06/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 22 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Países africanos sofrem consequências de independências tardias
Mesmo após declarações de independências, África ainda luta contra a interferência estrangeira nas soberanias nacionais inclusive por parte do Brasil.
Em 1972, líderes africanos se reuniram para enfrentar interferências estrangeiras.

Independência não é sinônimo de soberania nacional. Essa foi a principal constatação apresentada durante a mesa-redonda “Direitos Humanos na África” organizada pelo Centro de Estudos Africanos (CEA) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, no dia 27 de maio.

O evento mediado pela professora Margarida Petter foi promovido em alusão ao Dia da África, comemorado tradicionalmente em 25 de maio. A data reconhecida pela ONU em 1972 faz referência à reunião que ocorreu em Adis Abeba, na Etiópia, em 1963, quando chefes de estado africanos se reuniram para enfrentar a partilha da África e a apropriação forçada das riquezas naturais e humanas por parte dos colonizadores. Ainda nesse dia, fundou-se a Organização da Unidade Africana (OUA), atualmente conhecida como União Africana.

Convidados do evento, os professores Fernando Alburquerque Mourão e Zilda Grícoli Iokoi, da FFLCH, e o escritor e pesquisador Josué Bila, da UFSCar, apontararam, porém, que 61 anos depois, a África ainda não conseguiu cumprir completamente a missão proposta naquele ano. Os especialistas também propuseram que essa dificuldade deve-se às grandes interferências estrangeiras no continente, mesmo após os processos de independência.

Moçambicano, Bila contou como após a independência em 1975, as disputas pelo poder geopolítico sobre a região se acentuaram e dois anos mais tarde começou a guerra civil moçambicana - como ficou conhecida. “Sob o contexto da guerra fria, tanto países orientais e comunistas quanto organizações e nações euroamericanas ocidentais fizeram investimentos na guerra para ampliar seu poder geopolítico na região”, relatou o escritor.

Entretanto, as interfêrencias estrangeiras ainda ressoam na atualidade. A Frelimo (Frente de Libertação Moçambicana) e a Renamo (Resistência Nacional de Moçambique) permanecem gerando confrontos armados no país e deixando vítimas. Diante disso, “quem vai fiscalizar as eleições deste ano em Moçambique é a União Europeia”, conta Zila.

Já segundo a professora Zilda Iokoi, os brasileiros também não têm do que se orgulhar quanto ao seu relacionamento com o continente africano. Zilda afirma que “hoje na África, o Brasil está presente através de grandes construtoras e mineradoras, como a Vale do Rio Doce e a Odebrechet. O que nós fazemos não vai muito além do que os colonizadores faziam lá desde o século XVI.” Além disso, o escritor Zila conta que “produtos como as telenovelas brasileiras chegam à Moçambique e reforçam uma visão ruim dos africanos com os brasileiros. Quando o africano vê negros constantemente subordinados aos brancos nessas novelas, não da pra questionar que ele desgoste do outro país.”

A solução para se livrar das interferências não tem uma receita, mas o professor Fernando Mourão apontou que “os países africanos precisam encontrar uma maneira própria de governar, indepentendemente da polaridade das influências externas.” Segundo ele, só os povos africanos “são capazes de decidir que sistema de governo é melhor pra eles mesmos. Qualquer pensamento contrário a isso, é um tremendo preconceito da nossa parte”. Zola disse ainda que enquanto essas influências arbitrárias não cessarem “não é possível vender uma ideia de que ocorre Direitos Humanos na África.”

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