ISSN 2359-5191

19/05/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 08 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Palestrantes enxergam no jornalismo uma arma contra o preconceito

São Paulo (AUN - USP) - “O jornalismo não é uma carreira universitária. É uma especialidade técnica”, afirmou Luís Nassif, endossado por Juca Kfouri no debate sobre especialização na profissão, realizado na última terça-feira pela Semana do Jornalismo.

Falava-se sobre a pertinência do curso de jornalismo, e Nassif, lembrando a sua experiência na Universidade, contava que o curso, na sua parte teórica, era um apanhado de cadeiras de Humanas ensinadas superficialmente, e que a parte técnica poderia tranqüilamente ser adquirida em seis meses de inserção no mercado de trabalho.“O que interessa é saber escrever, saber pensar” dizia ele, indicando que o ideal seria que, depois de um curso superior, se fizesse uma especialização para jornalismo, e que o argumento de fornecer princípios éticos na comunicação não justificam a existência de uma faculdade.

Dividiram a mesa esporte e economia, no entanto, o próprio exercício da profissão, seja qual for seu direcionamento, foi o tema mais discutido. Os palestrantes concordaram que não é a especialização que define o trabalho do jornalista. A carreira e seus princípios são os mesmos, qualquer que seja a área escolhida: “jornalismo é jornalismo”, segundo Kfouri.

Ressaltou-se o preconceito que existe em relação ao chamado “jornalismo esportivo” e ao trabalho de quem o desenvolve. Juca afirmou que durante muito tempo, os próprios profissionais do meio contribuíam para a imagem de menor importância e nível de exigência do segmento, mas que hoje há na cobertura e análise esportiva profissionais preparados e competentes. O reflexo disso é a crescente valorização da atividade pelos próprios jornalistas e pela opinião pública.

Resistência a áreas de atuação não é privilégio, contudo do jornalismo. Existe, como bem marcado por Nassif, preconceito com o pensamento diferente, com a fala diferente daquela estabelecida como correta. Há, hoje, a insistente rotulação das idéias, um enquadramento. São essas simplificações que impedem uma compreensão da realidade, e que resultam, logo, numa cobertura ineficiente dos fatos por parte do jornalista que cede a elas, que “não enxerga as nuances”. Como sintoma dessa rotulação e a necessidade da mídia em se colocar no enquadramento tido como correto, deixa-se escutar aquilo que diz o senso comum, aquilo que é dito pelo não especialista. Por isso, segundo Nassif, “a imprensa hoje é um gueto cercado por um conjunto de leitores que não representa o Brasil”.

É papel do jornalista investir contra esses preconceitos e transitar entre os campos de atuação, ouvir diferentes vozes. O que diferencia o comunicador do especialista é, justamente, a capacidade de olhar para o mesmo fato de diferentes ângulos. Para isso, é preciso ter em mente a clara função social da profissão.

Luís Nassif coloca, ainda, certas necessidades para o jornalista que pretende escrever sobre economia. Ele tem de possuir profunda noção de história econômica do Brasil, e entender que ela se repete, conhecer os motivos dos acontecimentos, entender o que é, de fato, relevante. E ter noção da história econômica mundial, para perceber as atitudes e o pensamento real por trás do discurso “da moda”, reproduzido por economistas e analistas, e para obter lições de outros países. Mas, sobretudo, aconselha buscar compreender as relações de causa e efeito, estabelecer o nexo entre a teoria/ discurso e a realidade. Perguntar sempre, se não for claro, o processo que leva, por exemplo, uma medida econômica ou política causar certa alteração na sociedade. Essa compreensão de causa e conseqüência vale para todos os campos do jornalismo. Faz parte do trabalho tornar claras essas relações para a opinião pública.

Juca Kfouri aponta ainda outros aspectos, segundo ele, fundamentais para o bom exercício da profissão, que não são necessariamente adquiridos na universidade: possuir base cultural, ler avidamente e sobre tudo e ter consciência do papel que exerce o jornalista: “contamos histórias com começo, meio e fim de modo compreensível. Histórias que têm uma função para a sociedade”.

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