São Paulo (AUN - USP) - Sem o direito de comunicar, não existe democracia. Esse foi o ponto de vista defendido pelo jornalista João Brant representante do Intervozes, um coletivo brasileiro de comunicação social, no debate “Informação é direito ou mercadoria?” no quinto dia da Semana de Jornalismo da ECA-USP.
Segundo o comunicador, os direitos ligados à comunicação nasceram com as discussões a respeito da liberdade de expressão-principalmente devido ao papel de censor exercido pelo Estado – e evoluíram para o direito à informação e sua livre transmissão. Dessa forma, afirmou Brant, “o valor de mercadoria não é intrínseco à informação, mas foi sendo atribuído a ela ao longo do surgimento e desenvolvimento dos grandes conglomerados midiáticos”.
Brant prosseguiu discorrendo a respeito da lógica unidirecional do fornecimento de notícias e fez um alerta: antes a opressão ocorria apenas por parte do Estado; hoje, ocorre principalmente devido ao setor privado, referindo-se ao monopólio das nove famílias que detém o domínio dos meios de comunicação no Brasil. “Enquanto tiver o lucro como interesse, nunca vai haver um sistema equilibrado”, disse.
Quando questionado a respeito de quem poderia investir nesse jornalismo de interesse público, João Brant afirmou que os próprios veículos que lucram com a comunicação deveriam financiá-lo, além disso, ele apontou como uma segunda alternativa a utilização de uma parcela da receita publicitária obtida com os meios de comunicação.
O jornalista afirmou que o quadro atual é dramático e pessimista uma vez que sempre existirá a contradição entre lucro e interesse público, pois esses fatores não podem coexistir. Aponta como possível alternativa o acesso à informação pública e às informações empresariais; além desenvolver na mídia a noção de pluralidade e diversidade.
Futuro
Ainda, como alternativa para o quadro vigente, Brant incentivou a leitura crítica das mídias e a necessidade da população se familiarizar com a linguagem jornalística para assim conseguir discernir entre o que é relevante e o que é meramente discurso mercadológico. “Ao optar pela compra de determinada revista, por exemplo, opta-se na verdade pela compra de um viés, de um olhar de uma elite”, alerta.
Ainda foram levantadas questões a respeito da ação dos futuros jornalistas num quadro aparentemente estável de domínio capitalista. “Perceber e observar que o tempo inteiro as empresas tratam informação como mercadoria e assumir as contradições dos jornais que trabalham nesse contexto”, disse João Brant.
Tentar abrir caminhos alternativos, como as rádios comunitárias e os telecentros, em busca de um regime equilibrado de participação na esfera pública, ou seja, Brant salientou a necessidade de convergir os múltiplos interesses daqueles que não estão participando da mídia de maneira alguma. “Se queremos atingir uma grande parcela da população, temos que lutar contra a tendência de homogeneização dos monopólios”, conclui.