ISSN 2359-5191

19/05/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 08 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Secretário de redação da Folha questiona a existência dos cursos superiores de jornalismo

São Paulo (AUN - USP) - Na última quarta-feira, 18, grandes personalidades participaram do debate “O curso universitário de jornalismo deve existir?”, sediado na Escola de Comunicações e Artes. A mesa era formada por Boris Casoy, âncora do jornal da Rede Record, Vinícius Torres Freire, secretário de redação da Folha de S. Paulo, e José Coelho Sobrinho, chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola.

A questão mais debatida foi falta de preparação dos jornalistas recém-formados. “Recebemos jornalistas que não sabem nem mesmo o que é uma pauta. Não sei o que está errado nos cursos superiores, mas o resultado não está sendo satisfatório”, afirmou Vinícius. Ele também alegou que, após três meses no curso intensivo de trainee da Folha, as diferenças entre os candidatos formados em comunicação e os de outras áreas se diluem. “Não há diferenças na assimilação da prática entre os candidatos”.

Para o secretário de redação da Folha, isso se deve à simplicidade das técnicas jornalísticas. “O jornalismo é um curso técnico, assim como a engenharia ou a odontologia. A diferença é que as técnicas estudadas são muito mais rudimentares e próximas da vida cotidiana”. Além disso, aponta que o jornalismo não tem um objeto de estudo claro e concreto, não se aprofundando em nenhuma matéria. “Os estudantes precisam entender que nem tudo é tão simples como parece. Atualmente, os jornais precisam explicar essa complexidade”. Segundo ele, a Internet mudou o conceito de notícia: divulgar os acontecimentos é muito pouco. É necessária uma análise interpretativa e especializada dos fatos, atividade em que os formados em jornalismo encontram-se em desvantagem. Sua sugestão para alterar esse quadro é a criação de cursos com maior aprofundamento em determinadas áreas, complementados por um curso prático de jornalismo.

O discurso de Vinícius causou desconforto em alguns estudantes presentes. Rodolfo Vianna questionou se, ao resumirmos a formação do jornalista ao curso de trainee da Folha ou qualquer outro curso prático de curta duração, não excluímos o estudo das diversas práticas jornalísticas. “Não há apenas uma prática e um jornalismo”, afirmou. Também nesse sentido, Paloma Fermus, outra estudante presente no evento, indignou-se com a homogeneização proposta pelo secretário.

Ênfase na prática

Menos radical com relação à importância do curso de jornalismo, Boris Casoy também insistiu na questão da técnica. “Os cursos superiores têm formado conhecedores gerais e não jornalistas. Os alunos precisam entender como funciona o dia-a-dia de uma redação, com deadline, pressão e compromisso”. Sua sugestão foi trazer para dentro das universidades a prática com clientes e produtos reais, assim como ocorre nas empresas juniores. “Assim, poderíamos trazer uma dose de realismo do mercado para os estudantes, além de resolver parte dos problemas econômicos que dificultam a ampliação da prática nos cursos”.

Por outro lado, o jornalista posicionou-se claramente contra a obrigatoriedade do diploma superior para a execução do trabalho jornalístico. “Essa é uma profissão de caráter cultural e informativo. Quem se mostra apto a realizá-la, não deve ser impedido”. Também foi apontado que essa exigência incentiva a procura por cursos sem qualidade, apenas para a “compra” do diploma, desvirtuando seu propósito original.

Formação ética

Já o chefe de departamento da Escola analisou a importância do curso superior por outro ângulo. “A obrigação da formação ampla exigida para os jornalistas não é da ECA, mas sim de toda a Universidade”. Segundo Coelho, a função do curso é “lapidar os sentidos dos alunos para que eles possam transformar informações em fatos jornalísticos”. Além disso, apontou o papel ético da formação superior, importante em especial nas áreas de comunicação. “Nossos alunos devem estar conscientes do valor e da responsabilidade de sua profissão. Não buscamos formar técnicos, mas sim cidadãos”.

O debate abriu o terceiro dia da Semana do Jornalismo, um ciclo de eventos organizado pelos alunos da Escola de Comunicações e Artes. Até o próximo dia 20, serão realizadas palestras, debates, sessões de filmes e oficinas. Todos os eventos são abertos e gratuitos. Mais informações podem ser obtidas através do site da Semana ( http://geocities.com/semanajor ).

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