ISSN 2359-5191

30/06/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 32 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Artista se inspira em Clarice Lispector para criar obras cêramicas
Para sua tese de mestrado, pesquisadora moldou duas peças baseadas na literatura da escritora
sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos (à esq.) e Silêncio (à dir.)

A arte pode se manifestar de diversas maneiras. Na literatura, ela toma forma de versos ou de prosa para transpassar narrativas e expressões do autor. Nas artes plásticas, o artista se comunica com o mundo através da modelagem, da pintura, das cores etc. O que acontece quando estética e poética se misturam em uma só obra? Em sua tese de mestrado, a artista Patricia Miranda de Lima se inspirou nos textos de Clarice Lispector para criar duas obras em porcelana. A dissertação Porcelana e Leveza: percursos entre pensamento, forma e a materialidade e seus limites é composta por reflexões da própria autora e descrições do processo criativo, tanto sobre a técnica ceramista quanto sobre a expressão poética.

Foi folheando o livro Água Viva, da escritora ucraniana-brasileira, que Patricia se deparou com o trecho: "Eu não tenho enredo de vida? sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver." Estava aí o nome de sua primeira obra, assim com letras minúsculas mesmo. Clarice fazia questão de frisar que não eram erros, mas como a linguagem deveria ser escrita. As formas curvas de sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos são modeladas a partir de placas cortadas e assentadas de maneira a compor camadas. Fragmentos que resultaram do próprio processo de produção foram incorporados a ela, remetendo ao excerto literário.

Silêncio, sua segunda obra, foi inspirada na frequente ausência de som nos contos, crônicas e romances de Clarice, bem como na afinidade da própria artista com o tema. A composição é formada por diversas peças de cerâmica irregulares e curvas, dispostas sobre uma mesa iluminada. Algumas unidades possuem escritos em baixo relevo ou em branco sobre branco. Elas representam as interferências (ou "sons") no silêncio. A translucidez, a disposição dos objetos e a fluidez com que são moldados faz a composição lembrar folhas de papel ao vento.

Mas por que, entre tantos outros escritores, Clarice foi escolhida? "As palavras estão nas minhas obras desde o ano 2005, com frases próprias e apropriações. Eu coleciono frases", explica Patricia. "A escritora tem a força inquestionável que já se conhece. Este trabalho se move a partir de fragmentos extraídos de sua leitura, e recolocados através de meus filtros: minha bagagem cultural, minha poética e minhas buscas na manipulação da porcelana."

A forma, a cor, a translucidez, a textura aveludada: tais características intrínsecas da porcelana foram os atrativos para a escolha do material. Ao lado do desenvolvimento dos objetos, são realizadas pesquisas relacionadas às características da porcelana, como cor, resistência e translucidez. Assim, a pesquisa não só investiga as propriedades do material, mas também as valoriza.

Como resultado, as características dos objetos produzidos estão diretamente ligadas às características da cerâmica. O branco, cor da porcelana queimada, pode ser relacionado à pureza, ao vazio, ao divino. A translucidez dá um ar imaterial à criação. As interferências, as deformações, a retração das peças durante a queima e a secagem, tudo possui seu conceito artístico nas obras.


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