Cursos de formação superior sofrem influência territorial. É o que constatou a professora Vivian Fiori em sua tese de doutorado, defendida pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, As condições dos cursos de licenciatura em Geografia no Brasil: uma análise territorial e de situação.
Em decorrência dos processo de interiorização do país, foram criadas algumas singularidades nas licenciaturas que têm relação com a formação e dinâmica territorial do Brasil. Vivian partiu de uma ideia que poderia ser aplicada na análise de qualquer curso para observar a relação das licenciaturas em geografia com o território brasileiro.
A pesquisadora fez inicialmente uma análise geral dos cursos com base em diversos dados como os do Enade. Em seguida, colocou tudo em mapas, possibilitando a observação de certas peculiaridades na região amazônica, Maranhão, Piauí, Pernambuco e nos cursos à distância. Fez então uma análise pormenorizada dessas áreas, bem como entrevistas.
Vivian constatou que cidades mais desenvolvidas economicamente são mais propensas a sediar um campus, enquanto regiões mais afastadas têm, muitas vezes, cursos temporários. Nesse mesmo sentido, cursos localizados no interior têm menos professores doutores. “É um pouco parecido com a situação dos médicos. Profissionais mais qualificados não querem ir pra o interior”, afirma a pesquisadora.
A professora observou também diferenças curriculares de acordo com o local. Em uma região agrária, por exemplo, o curso é mais voltado para as questões de geografia física. Além disso, a própria escolha do curso é afetada por questões territoriais; muitas vezes a pessoa acaba não cursando o que tinha vontade pelo não oferecimento daquela carreira nas proximidades da sua casa.
Para Vivian, o poder da geografia vai além: a relação professor-aluno varia de acordo com o lugar da aula. Em regiões mais isoladas o professor é mais valorizado, já que aquela profissão é uma das poucas a se seguir.
Apesar de todas essas análises, não se pode concluir que a qualidade dos cursos é diretamente afetada. Em sua pesquisa, Vivian não quis fazer rankeamentos dos cursos analisados porque isso é algo muito relativo. Ela acredita que devem ser considerados os contextos socio-econômico, histórico e cultural antes de se julgar o que é melhor e pior.