ISSN 2359-5191

10/07/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 38 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Teoria dos ciclos ajudou pensamento econômico brasileiro a evoluir
Pesquisador que analisou propostas de Roberto Simonsen afirma que debate entre liberalismo e protecionismo ainda não foi superado no País
Finidade do ciclo da mineração exemplifica a defesa de um planejamento econômico de longo prazo.

A contribuição teórica de um empresário do início do século 20 para a economia brasileira contemporânea é a principal observação da dissertação de mestrado “Entre a história e a economia: o pensamento econômico de Roberto Simonsen. Autor da pesquisa, Luiz Felipe Bruzzi Curi ressaltou a importância de Simonsen em adaptar os conceitos econômicos europeus para a realidade brasileira e contribuir para a criação de um pensamento nacional do setor.

A dissertação dividida em três partes (historiografia da primeira metade do século 20, Simonsen historiador e Simonsen economista) relata justamente duas dimensões da carreira do empresário, “uma industrial, enquanto líder da indústria paulista e fundador da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], e outra intelectual, enquanto pensador importante para a história e a economia”, afirmou Curi.

Autor do livro “Teoria dos Ciclos”, Simonsen “talvez tenha feito a primeira síntese da história econômica do Brasil. Ele traz a ideia dos ciclos: do açúcar, da mineração, do café, que atualmente é uma ideia muito contestada, mas que lançou as bases do entendimento da economia brasileira sob uma perspectiva nacional”, afirmou o pesquisador. Ele destaca a importância do empresário que se baseou em autores como Friedrich List e Mihail Manoilesco para adaptar as teorias econômicas para o cenário brasileiro e fazer uma defesa do protecionismo, em contraponto ao liberalismo.

Debates e influências

A obra pioneira de Simonsen serviu de base para novos teóricos econômicos que surgiram no país. Pesquisadores como Celso Furtado, autor de “Formação econômica do Brasil”, e Caio Prado Júnior, autor de obra homônima a de Simonsen, fazem citações do livro que lançou a teoria dos ciclos. “Hoje a gente sabe que esses ciclos não eram tão bem separados assim, mas só o fato de teorizar a questão já foi muito significativo. Além disso, precisamos tomar cuidado para não analisar a obra com os olhos de hoje, pois ela é uma trajetória, de toda forma, diferente”, alerta Curi.

Além destes, o doutorando lembra também de um famoso debate que Simonsen travou com um dos principais acadêmicos da época, Eugênio Gudin. Neste debate, a defesa da industrialização do país com o Estado protegendo o nascimento das empresas ficou claro nas falas de Simonsen, enquanto Gudin defendia a vocação agrícola do Brasil. Curi afirma que nesta ocasião, “pela primeira vez alguém veio a público defender uma estratégia econômica de planejamento. Diretamente influenciado ou não, depois o planejamento econômico passou a ser utilizado como política no Brasil, como por exemplo no Plano de Metas de 1956.”

O pesquisador destaca que o grande legado de Simonsen está no pensamento de que “o desenvolvimento do Brasil, a superação do atraso econômico, passa pela intervenção do Estado. O planejamento de forma muito clara é isso: o Estado intervindo na economia.” Dessa forma, Curi ressalta como o debate travado entre Simonsen e Godin permanece atual. “Até hoje, em anos eleitorais, o fantasma das discussões de quase 100 anos atrás retornam. A gente continua discutindo: mais Estado ou menos Estado. O Brasil contina sendo um país ‘em desenvolvimento’ e nós ainda não temos essa resposta”, relatou.

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