Diz-se que o ensino a distância (EaD) democratiza a educação no Brasil, porém, pouco se considera sobre o significado de democratização. A tese de doutorado de Joy Nunes “Democracia e utopia na sociedade do conhecimento: reflexões sobre a educação a distância”, defendida na Faculdade de Educação da USP analisa o discurso de legitimação da EaD como forma de democratização, tomando a EaD como objeto específico, bem como investigar as implicações das novas tecnologias da informação e comunicação na educação.

A noção de democratização apenas como algo quantitativo leva a uma ideia que existe uma relação intrínseca entre a educação e esse regime político, o que aparece até mesmo em documentos oficiais do Estado Brasileiro, mas Nunes afirma que “isto não é verdadeiro, nem do ponto de vista histórico, uma vez que a educação muitas vezes foi utilizada como importante ferramenta a serviço de regimes totalitários, nem lógico, posto que o termo “expansão” não abarca imediatamente o sentido de “democratizar”.

Considerando a educação a distância não apenas como a educação formal, mas também como modalidade complementar, Joy Nunes considerou antigas pesquisas sobre o tema, levantou dados oficiais e analisou experiências concretas de educação on-line a fim de entender o conceito de democratização em se tratando de educação a distância.

O pesquisador observa que atualmente os conceitos de democratização e expansão são confundidos quando se fala de educação a distância e busca entender o porquê. Segundo ele, com a ocorrência de uma transformação educacional a partir da introdução de novas tecnologias de informação e comunicação e um mercado de trabalho mais exigente, a educação é considerada um ativo econômico, e cria-se a mentalidade de que ela deve ocorrer por toda a vida.

Em sua pesquisa, Nunes explica que está se formando um novo ordenamento social chamado de “Sociedade do Conhecimento”, que seria um momento histórico em que o trabalho produtivo material é desqualificado e exige-se maior formação educacional para o mercado de trabalho. A partir dessa demanda e com a facilidade de acesso devido às novas tecnologias, são expandidos os processos educacionais.

O pesquisador também afirma que o argumento da democratização não teria o mesmo sentido em um país em que o acesso à instrução pública já fosse ofertado a todos. Em sua tese, Joy diz que os discursos que sustentam a expansão da EaD como um processo de democratização partem de três argumentos básicos: argumento da proporcionalidade, que se refere ao aspecto quantitativo, argumento da inserção ao meio, que diz que a EaD além de inserir mais pessoas na educação formal, também as insere no uso da internet, e argumento da flexibilidade, que indica que, por romper com obrigações de tempo e espaço, a EaD torna a educação mais acessível.

Avaliações como a do Enade, têm demonstrado que os alunos matriculados em cursos de EaD obtiveram notas iguais ou superiores aos da educação tradicional. Segundo documentos oficiais do Estado brasileiro, a educação a distância configura-se como o “novo paradigma da educação”, o que significa que algumas das suas características devem nortear a educação como um todo. Entre elas, a principal seria o fato de que a facilidade de acesso às informações reconfigura a hierarquia da educação tradicional.

Por outro lado, a educação a distância contribui para a desvalorização de conhecimentos anteriormente produzidos e cria novas normas para o ensino. Na EaD o estudante é mais controlado, uma vez que todas as suas atividades podem ser monitoradas

Assumindo que nenhuma espécie de educação pode ser desvinculada da situação em que é gerada, Joy diz que “a questão é buscar entender a sociedade que gera a educação on-line”, e conclui “o que está em tela é, sobretudo, uma questão política, posto que a educação converta-se hoje, cada vez mais, em uma força produtiva em nossa sociedade altamente tecnológica.”