Iniciativas que promovem o uso de fotoprotetores bioativos tem sido difundidas, com o objetivo de diminuir a concentração dos filtros químicos nos protetores solares. Esses ingredientes tendem a causar mais alergias e, por vezes, são absorvidos pela pele, o que não é o ideal para um produto de aplicação tópica. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP), foi desenvolvida uma nanoestrutura capaz de potencializar a absorção de radiação ultravioleta de ingredientes naturais. O polímero escolhido para a composição da estrutura foi a gelatina, que não apresenta toxicidade e pode ser degradada pelo organismo, caso chegue a penetrar na pele. No interior e no exterior da nanopartícula ocorre a interação entre o polímero e a rutina, substância natural responsável por absorver a radiação ultravioleta.

A rutina é um flavonóide, ao qual são atribuídas características antioxidantes, valorizadas na indústria por serem conhecidas como fatores antienvelhecimento celular. A rutina, porém, é difícil de ser adicionada às formulações dos protetores, explica o professor André Rolim, orientador do projeto. "Melhoramos sua incorporação de maneira esteticamente viável e funcionalmente mais atrativa por meio da partícula de gelatina".

Outro aspecto importante do estudo é que, além de possibilitar a diminuição da concentração dos filtros químicos, melhorando a segurança do produto, ele visa aumentar a estabilidade dos protetores solares frente à radiação violeta. A autora da pesquisa, Camila Areias de Oliveira, esclarece: "Há um paradoxo relativo a algumas classes de filtros químicos: eles são fotoinstáveis. Uma vez que são expostos à radiação, perdem a capacidade de absorvê-la". Esse é um dos motivos pelos quais é preciso reaplicar o protetor com bastante frequência. A reaplicação, porém, também se deve ao suor e ao contato da pele com outras superfícies, como as roupas, que acabam por retirar o produto.

A ideia do projeto também é trabalhar com a tendência de não usar animais os testes de segurança de cosméticos. Na primeira etapa da pesquisa foi utilizada uma cultura de queratinócitos humanos, sobre os quais os efeitos do ingrediente desenvolvido foram avaliados. Outros testes, já em pele humana, envolvem analisar a hidratação da pele e a perda de água, que é consequência do rompimento da barreira cutânea causada por alguma espécie de dano, além de observar e quantificar a formação de eritemas (vermelhidão), que podem ser evidências de reações alérgicas.

A pesquisa, financiada pela Fapesp, foi apresentada no 27º Congresso de Cosmetologia, que aconteceu em São Paulo, em maio de 2014 e foi premiada, ficando em segundo lugar nas apresentações orais do evento. O prêmio, de R$ 3 mil, será usado para ajudar a custear o estágio da pesquisadora em Portugal, no centro de pesquisa Cbios, da Universidade Lusófona, no qual pretende avaliar se a nanoestrutura desenvolvida chega a permear a pele. "Como estamos tentando melhorar a segurança de um produto, precisamos saber se aquele que nós mesmos desenvolvemos é seguro", afirma Camila.