Uma membrana capaz de aderir à mucosa bucal vem sendo desenvolvida em um dos laboratórios da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP). Composta por polímeros naturais, ela é extremamente fina e, segundo os testes já realizados, só precisa ser substituída após oito horas, sendo capaz de liberar o medicamento incorporado a ela de forma constante por todo o período.
Utilizando como princípio ativo a triancinolona acetonida, que auxilia no combate a aftas, o produto tem se mostrado como alternativa aos remédios destinados a tratar essas lesões na cavidade bucal. Algumas das formulações atuais em pomadas ou cremes causam desconforto ao usuário por possuírem textura arenosa e gosto ruim, e em geral, os remédios precisam ser constantemente reaplicados, saindo com muita facilidade do local lesionado. Já a membrana conseguiria se manter fixa e promover maior conforto, com espessura pouco perceptível.
A pectina e a goma gelana são os polímeros naturais utilizados no projeto. Pesquisas anteriores conseguiram desenvolver um produto similar com outra substância, a quitosana. No entanto, ela se dissolve em ácido, do qual pode restar resquício posterior, enquanto para produzir uma solução de pectina e goma gelana só é preciso utilizar água.
As primeiras avaliações da membrana tem se mostrado promissoras, afirmam Felipe Fernandes, autor da pesquisa, e Humberto Ferraz, professor que coordena o Deinfar (Desenvolvimento e Inovação Farmacotécnica), laboratório onde tem se desenvolvido o estudo. Entre duas das etapas restantes estão a avaliação da resistência do produto à ruptura, e uma medição que comprove sua mucoadesividade. Um dos objetivos futuros é expandir o uso da membrana para além da aplicação tópica de medicamentos, partindo da absorção da mucosa para atingir o organismo como um todo.
Diferente de outras iniciativas da universidade, o Deinfar é um laboratório criado para interagir com a indústria farmacêutica, e realiza um trabalho híbrido, no qual presta consultoria e desenvolve pesquisas em conjunto com empresas privadas. Eventuais trabalhos levam ao registro de patentes. Em 2004, por exemplo, foi lançado o Vonau Flash, medicamento indicado para o controle de náuseas e vômitos, cuja tecnologia foi desenvolvida e patenteada pelo laboratório em parceria com a Biolab Sanus Farmacêutica. Futuramente, o trabalho de Felipe também pode vir a ser desenvolvido através de parcerias com empresas externas.