O laço com a escola, uma vez estabelecido, não é necessariamente quebrado pelo encontro com as drogas, observa a pesquisadora Maria Giovana Xavier, em sua tese de doutorado O sujeito e as drogas: entre o prazer e o gozo, defendida pela Faculdade de Educação da USP (FE/USP). O crescimento das estatísticas relativas ao uso de drogas e multiplicação de novas substâncias têm atraído a atenção de pesquisadores que buscam entender a relação do sujeito com as drogas.
A pesquisadora baseia-se em teorias psicanalíticas de Freud e Lacan e afirma que a relação com a escola pode ser o último fio de desejo do Outro que resta a um dependente químico para fazer barragem ao gozo inscrito na prática das drogas. O uso da droga, como produção da modernidade contemporânea, não ocorreu sem consequências para o processo de constituição do sujeito, no entanto, o fracasso escolar não é necessariamente uma das consequências dessa prática.
Fazendo quatro estudos de caso e a análise do discurso dos paciente, sob uma ótica psicanalítica, Maria Giovana objetivou compreender a relação do sujeito com as drogas, tendo em vista as políticas públicas sobre drogas, as atuais formas de tratamento e recuperação para dependentes de drogas e as relações entre escola, professor e aluno.
Foi possível concluir que, ao contrário do que se imagina, a determinação do fracasso escolar é anterior à entrada no mundo das drogas e, da mesma forma, o sucesso escolar nem sempre é impedido pelo abuso de substâncias químicas. “A inclusão do sujeito que faz uso de drogas na escola, sem dúvida, passa pela posição do professor, que pode criar um laço do aluno com a escola, privilegiando a possibilidade de simbolização e o afastamento das drogas.”, afirma a pesquisadora.No entanto, o fracasso e a evasão escolar podem agravar o vínculo com as drogas, pelo afastamento da possibilidade de intervenção do Outro no processo de constituição daquele sujeito.
A determinação da dependência resulta também de processos internos dos sujeitos, como consequência de uma falha no registro do simbólico, marcado pela rejeição do Outro. Por outro lado, a busca por programas de tratamento e recuperação derivam exclusivamente de processos externos, como a pressão da família, do trabalho, da justiça, entre outros. Na maioria das vezes, “o processo de exclusão social vai se agravando até que a necessidade de abstinência se impõe de fora para dentro”, afirma Maria Giovana. Convence-se o sujeito de que ele é doente e que a melhor alternativa é a segregação institucional.
Segundo a pesquisadora, as relações entre o indivíduo e as drogas são produzidas socialmente na contemporaneidade. Assim, este estudo permite repensar o papel da Educação, da escola e do professor ao lidar com crianças e adolescentes que recorreram às drogas.