São Paulo (AUN - USP) - Tratamento mais humanizado, voltado para o bem-estar do paciente fora de possibilidade de cura. Reintegração ao ambiente familiar e otimização do uso dos recursos hospitalares. Esses são os principais objetivos do Programa de Assistência Domiciliária (PAD), desenvolvido há cinco anos pelo Hospital Universitário da USP (HU). Para fazer parte do programa, o paciente precisa ter condições de ser atendido em casa e ter alguém que possa cuidar dele. A equipe, formada por profissionais de diversas especialidades da área da saúde, proporciona um atendimento completo, tanto ao doente quanto à família e aos cuidadores.
O PAD oferece tratamento paliativo, para melhorar a qualidade de vida do paciente quando não há mais chances de cura. Em conversas da equipe médica com o paciente e seus familiares, são registradas as preferências quanto ao tratamento. O paciente tem a opção de ser transferido para sua casa e receber ali toda assessoria dos profissionais do PAD. “Muitas famílias não aceitam bem isso, pensam que ter alguém doente em casa, alguém morrer em casa, de certa forma macula o ambiente doméstico”, diz o médico Cláudio Sakurada, coordenador do PAD. “Conversamos e expomos os benefícios para o doente de estar próximo da família, no seu lar, durante o momento da morte”, revela.
Atualmente, 80% das mortes em São Paulo ocorrem nos hospitais. No passado, a maioria das pessoas morria em casa, junto de seus familiares e amigos. “A partir do surgimento dos grandes hospitais, em 1930, a morte mudou de lugar – passou das casas para os hospitais”, diz Sakurada. Isso trouxe algumas questões delicadas. “O doente deixou de gerenciar sua morte, ele morre da pior forma possível – longe da família, numa UTI, completamente isolado”, acrescenta. “Isso é muito complicado, porque nessa hora ele sente pavor, tanto pelo medo do desconhecido como pela separação da família”.
A equipe também acompanha a família após a morte do paciente, no Programa de Atendimento a Famílias Enlutadas (PROAFE). Faz visitas à família para prevenir o “luto complicado”. “Existe o luto normal, mas com o tempo a pessoa supera e continua com suas atividades normais. Nós tentamos evitar que a pessoa fique profundamente deprimida, a ponto de não querer fazer mais nada. Esse luto dura muito tempo e afeta demais a vida da pessoa. Nosso objetivo é dar apoio para que isso não aconteça”, afirma Sakurada.
Sistema Intrahospitalar
Desde 1992, foi implantado no HU o GRAPPAC, programa que oferece apoio ao paciente, à família e à equipe que assiste ao paciente. Em um sistema que funciona na Intranet do hospital, os médicos têm acesso a um registro completo do histórico do paciente, da independência quanto a movimentos e ações, e também das conversas em que o paciente expressa sua vontade com relação a tratamento de saúde, como se deseja ou não ir para a UTI. Assim, quando o doente retorna ao hospital em uma situação de emergência, a equipe médica tem à sua disposição um relatório completo, que permite decidir como agir. “Esse sistema é único, nunca vi nenhum outro hospital que tenha um sistema tão completo como esse. Assim, podemos oferecer ao paciente um tratamento mais humano”, completa Sakurada.