São Paulo (AUN - USP) - Nada de plantar feijãozinho num copo com algodão. Os projetos desenvolvidos pelo Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física (LaPEF) da Faculdade de Educação (FE-USP) envolveram mais de três mil crianças em uma nova proposta de ensino de Ciências, ainda muito restrito às noções de Biologia e higiene. A partir de atividades práticas, os alunos se familiarizaram com fenômenos físicos como equilíbrio, flutuação, formação de sombras e reflexão de luz. Agora experiências como essas podem ser vistas nos 15 vídeos que o Laboratório organizou para orientar professores, e que já estão disponíveis na internet.
A série resulta de pesquisas sobre a construção do conhecimento de Física no Ensino Fundamental, que vinham sendo estudadas há mais de dez anos, segundo a coordenadora do LaPEF, Anna Maria de Carvalho. Com o financiamento da Fapesp, foram realizadas quinze atividades com crianças de 7 a 10 anos da rede pública de ensino. Durante as pesquisas, o laboratório começou a ministrar cursos para os professores, e veio a necessidade de conceber os vídeos.
“Gravamos um número limitado de experiências para o professor não se prender demais às propostas e criar as suas próprias”, relata Anna Maria. Quanto aos resultados do projeto, ela destaca o potencial dos estudantes. “Os alunos são capazes sim de levantar e testar hipóteses, e ainda conseguem explicá-las”, diz. A docente deixa claro, porém, que as crianças não desenvolvem o pensamento científico. “Nessa idade, a criança está saindo da linguagem da fantasia e se apropriando do concreto, do conceitual”. As gravações mostram essa passagem. Enquanto um aluno se refere à pressão para explicar um fenômeno, outro diz que “a água estava brava e brigou com o ar”. Ainda assim, os estudantes constroem conhecimentos que serão mais estruturados no Ensino Médio, como o raciocínio proporcional e o hipotético-dedutivo.
A maioria dos vídeos é dividida em cinco partes. Na primeira, o professor apresenta o problema e os materiais. Os alunos, em grupos, manuseiam e agem sobre os equipamentos, levantando hipóteses. Em seguida, os pequenos grupos se desfazem e, reunidos num semi-círculo, os estudantes respondem como e porque chegaram à solução. Depois, cada aluno registra suas experiências por meio de textos e desenhos. Finalmente, a classe tenta associar os conceitos aprendidos na sala de aula ao cotidiano.
Reação dos professores
Depois da construção dos quinze vídeos, os pesquisadores do LaPEF, coordenados pela professora Maria Lúcia Abib, desenvolveram uma pesquisa voltada exclusivamente para formação de professores. O projeto durou cinco anos e envolveu indiretamente mais de 100 escolas públicas da cidade de São Paulo. As assistentes técnico-pedagógicas das diretorias de ensino participavam de cursos na Faculdade de Educação e levavam as discussões para os coordenadores das escolas. Estes, por sua vez, trabalhavam junto aos professores.
“Muitos docentes ficavam tão maravilhados que até inventavam novas atividades para os alunos”, afirmou Maria Lúcia. Outros, no entanto, eram refratários à incorporação de novas práticas. As razões da rejeição, segundo a docente, são muitas. Desde a acusação de que a Universidade desconhece a realidade da escola pública até a rigidez dos currículos. “O cenário de alunos discutindo entre si e mexendo em novos materiais também pode ser sinônimo de indisciplina para alguns professores”, acrescenta Maria Lúcia.
Para a docente, uma grande barreira às inovações didáticas é a precária formação dos professores de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, que só agora começam a ter nível superior. A maioria não tem muitos conhecimentos sobre Física, tradicionalmente considerada uma matéria difícil. Maria Lúcia também chama a atenção para a importância de mudar conceitos pedagógicos. “Ensino não é dizer ‘eu dei uma boa aula’, mas ‘o aluno aprendeu bastante na minha aula’”, conclui.
Mais informações pelo telefone 3091-3139 ou pelo site do LaPEF ( http://paje.fe.usp.br/~lapef/).