Entre 1926 e 1927 ocorreu no Brasil o “Concurso de Beleza Fotogênica Feminina e Varonil”, realizado pela Fox-Film no Brasil com o objetivo de levar dois brasileiros para atuar em Hollywood. Esse acontecimento foi analisado por Isabella Goulart em sua dissertação de mestrado e muitas das conclusões as quais ela chegou sobre o cinema naquela época podem ser analisadas pensando no audiovisual dos últimos tempos.
Um dos pontos mais fortes abordados por Isabella são os padrões de beleza da época e sua importância no mundo do cinema. Na título do próprio concurso já vemos que ele está diretamente associado à beleza e não ao talento ou capacidade de atuar de concorrentes. Na descrição de quem poderia participar dizia-se que os homens e mulheres deveriam ser jovens de “pele branca e sangue latino”. Tanto neste concurso, quanto em outros analisados e nas páginas das revistas da época o padrão era uma mulher branca, magra, jovem e que cuidasse da aparência. Não apenas a cor da pele, mas qualquer traço ligado à negritude, era visto como negativo. Essa concepção de beleza era o que queriam mostrar nas telas do cinema e, ao mesmo tempo, ter apenas estrelas dentro desses padrões era o que fazia com que todos enxergassem isso como belo.
O que mais fugia deste molde era a presença e valorização da latinidade no cinema norte-americano, tanto que no concurso procuravam pessoas de “sangue latino”, mas mesmo esse perfil acabava inserido em um grande estereótipo. Desde que tivessem pele branca, os latinos também eram tidos como um ideal de beleza, de maneira que eram estereotipados a partir de algo positivo. Porém, tudo baseava-se apenas na aparência. Afinal, todos os tipos de latinos, com identidades diferentes e complexas, eram englobados dentro de um mesmo grupo. Um fato que ressalta isso é que um dos latinos mais famoso da época era, na verdade, um austríaco que se encaixava nesse perfil apenas por conta de sua aparência.
Esses dois pontos podem ser facilmente transportados para uma análise nos dias atuais. Os padrões de beleza da década de 20 não são tão distantes dos que observamos hoje. Ainda que haja uma valorização maior da cultura negra, é só observar as novelas para perceber como o racismo ainda é forte no meio audiovisual. Se antigamente negras não podiam participar de conscursos para aparecer em filmes de hollywood, hoje ainda são poucas as que representam protagonistas de novelas, por exemplo. Já os latinos, que apareciam sempre dentro de um mesmo estereótipo na década de 20, hoje vem ganhando mais espaço, mas, em geral, ainda aparecem dentro de alguns padrões estabelecidos. Seja o de “latinlovers”, conceito presente já na época abordada, quando o termo foi inventado para o ator Rudolph Valentino, e que está presente até hoje em alguns personagens representados por atores como Antonio Banderas. Ou da latina como uma mulher essencialmente sensual, ideia que pode ser percebida em diversos papeis feitos por mulheres como Salma Hayek e Penélope Cruz.
Assim, o trabalho da pesquisadora nos mostra, através da história do concurso, como eram os estereótipos presentes no cinema na década de 20. A partir disso é possível compreender um pouco melhor como as representações que chegam até nós nos dias de hoje foram construídas ao longo do tempo. Outra questão perceptível, por meio dos resultados da pesquisas, é que os padrões e estereótipos são antigos e não se alteraram tanto quanto poderiam com o passar dos anos.