A sub-região da Nhecolândia, no pantanal brasileiro, apresenta topografia mais alta que as áreas vizinhas – ou seja, seu solo é mais elevado que os das outras regiões. Esta diferença topográfica sugere uma influência da tectônica (movimentação das placas onde se assenta o continente) nas formações geológicas atuais da área. Estas são as conclusões de uma pesquisa realizada no Instituto de Geociências (IGc-USP).
A Nhecolândia é parte do pantanal e está localizada no Mato Grosso do Sul. De acordo com a autora do estudo, Deborah Mendes, esta é a única região do pantanal onde se observam ocorrências de lagoas salinas. E “o grande mistério dessa região é como se formam essas lagoas e por que existe esta diferenciação química”, ela diz.
O objetivo da pesquisa, de acordo com Deborah, era verificar se existia uma diferença topográfica significante entre a Nhecolândia e as sub-regiões vizinhas do pantanal – o que indicaria que as formações das lagoas sofreriam influência da ação tectônica da bacia do pantanal. Para isso, ela utilizou imagens de satélites (obtidas no site da Nasa) que exibem a elevação de uma determinada área.
As imagens precisaram ser tratadas em computador por um “filtro Passa-Baixas”: basicamente, uma fórmula matemática que elimina deformações dos registros topográficos do solo causadas pela vegetação. A pesquisadora explica que “os modelos digitais de elevação imageam o topo de tudo. Por isso, se a região possui vegetação alta, como árvores, os resultados sofrem variações”. O filtro permite ver mais ou menos qual é a elevação real do solo.
Os resultados do estudo confirmaram a hipótese da pesquisadora: de que a área da Nhecolândia está mais alta que as regiões próximas. Isto, segundo ela, indica que as lagoas salinas são parte de “uma paisagem antiga do pantanal, conservada ao longo do tempo”. A ação tectônica, portanto, foi confirmada. A dissertação se chama Filtros passa-baixas ponderados e dados SRTM aplicados ao estudo do pantanal da Baixa Nhecolândia, MS: Aspectos tectônicos e de distribuição de lagoas hipersalinas. Atualmente Deborah está trabalhando em seu doutorado, que também tem por área de estudo a Nhecolândia.