ISSN 2359-5191

05/11/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 79 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Título concedido pela Unesco gera tragédia do patrimônio
Titulação de Patrimônio Mundial da Unesco provoca uso mercadológico exagerado dos bens históricos e culturais, retirando delas sua identidade.
Título de Patrimônio Mundial da Unesco: solidariedade que gera tragédia de patrimônio

A tese de doutorado Da nação ao mercado: patrimônios mundiais e intervenções urbanas em perspectiva comparada, da pesquisadora Elaine Lima investiga a conversão de centros históricos a Patrimônios Mundiais pela Unesco e os conflitos gerados pela titulação. Utilizando-se das cidades de São Luís, no Maranhão, e Guimarães, em Portugal, como objetos de análise, a socióloga conclui que o título gera a tragédia do patrimônio, ou seja, esvaziamento dos conteúdos identitários das cidades, embora o objetivo da organização seja o de promover cooperação e solidariedade internacionais sobre estes locais.

Segundo site oficial da Unesco no Brasil, a patrimonialização tem como principais objetivos “promover a identificação, a proteção e a preservação do patrimônio cultural e natural de todo o mundo, considerado especialmente valioso para a humanidade”. Embora a intenção da titulação seja a de promover solidariedade mundial sobre uma localidade, o que ela gera é competição entre cidades para obtenção do título.

Além disso, a titulação estimula estratégias de gestão urbana voltadas para a valorização mercadológica das cidades. “Neste contexto, o patrimônio ganha contornos de mercadoria a ser oferecida para o consumo cultural”. A partir disso, cidades têm recebido intervenções de revitalização e políticas públicas que estimulam o consumo cultural, o lazer e o turismo, visando principalmente benefícios para a economia local.

A patrimonialização é uma categoria que hierarquiza os bens culturais por criar marcos de distinção. Significa dizer que a revitalização serve para reconstruir sua imagem em favor de partes específicas da população e do capital, excluindo outras. As antigas áreas são redirecionadas para utilização de camadas mais elitizadas, pois enobrecem os espaços antes marginalizados. Consequentemente, os locais perdem seus conteúdos de identidade e o que os torna históricos se esvazia, causando a tragédia do patrimônio.

Os casos de São Luís e Guimarães

São Luís, capital maranhense, é um caso em que a patrimonialização envolve não apenas questões mercadológicas, mas também políticas. A candidatura da cidade teve relações diretas com os projetos políticos da família Sarney. A revitalização da cidade intentou em criar uma identidade muito ligada à figura do patriarca da família, e criou em Roseana Sarney a imagem de protetora da cultura local.

Em Guimarães, cidade portuguesa, as questões políticas existem, mas, segundo a pesquisadora, os aspectos mercadológicos se sobressaem. A candidatura da cidade teve relação direta com a intenção de superar a estagnação de sua antiga economia industrial e desenvolver um projeto de economia criativa, voltada para grandes eventos, turismo e lazer, inovando e remodelando imagens tradicionais da cidade.

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