ISSN 2359-5191

06/07/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 14 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Auto-suficiência em petróleo é questão de tempo no Brasil

São Paulo (AUN - USP) - A auto-suficiência do Brasil na produção de petróleo, como prevê a Petrobrás para pelo menos o começo de 2006, é apenas uma questão de tempo, diz Paulo César Boggiani, professor e, como acha importante salientar, geólogo do Instituto de Geociências (IGc-USP). A descoberta de novas jazidas exige pesquisa cara e demorada, contudo, os dados até agora obtidos são favoráveis.

Os preços do barril de petróleo têm sofrido aumentos consideráveis, batendo novos recordes. Por isso, a auto-suficiência ganha importância. As projeções da Petrobrás não são baseadas em jazidas já encontradas, mas sim na possibilidade de encontrá-las e só é possível prever isso em virtude dos avanços tecnológicos nos trabalhos de perfilagem sísmica das bacias: perfis mais detalhados permitem melhor visualização das áreas de possível ocorrência de óleo nas bacias sedimentares.

Antigamente, não era possível uma confecção de perfis detalhados e a leitura era complicada. Hoje em dia, as imagens têm uma qualidade muito maior, permitindo melhor legibilidade por parte dos especialistas. Uma vez encontrada uma possível jazida, são feitos furos exploratórios, e de cada dez desses, apenas um possui, de fato, petróleo. Perfis sísmicos melhores permitem também definir áreas de maior possibilidade de ocorrência de óleo. “Os perfis sísmicos são o verdadeiro mapa da mina”, afirma Boggiani.

O petróleo não é extraído do lugar onde ele foi formado. A matéria orgânica sedimentada matura-se em óleo em camadas argilosas. Elas então migram para camadas mais porosas, esponjosas – rochas com a textura e a mesma absorção de líquidos que uma espuma – e escorrem até encontrar uma “trapa” (adaptação do termo inglês traping, armadilha), uma rocha impermeável que barra a migração do óleo. É nesse tipo de estrutura que os geólogos procuram petróleo. Hoje em dia já existem técnicas que extraem até os resíduos de óleo mais grosso que restam nos poços secos.

As imagens didáticas das jazidas de petróleo passam uma impressão errada de que há um grande recipiente no solo que, tendo uma vez sido extraído o petróleo, sobraria um grande vazio. Isso não acontece: os poços de petróleo são na verdade, grandes esponjas de pedra encharcadas em óleo e a extração, de certa forma, “espreme” essa esponja.

A Petrobrás, mesmo sem o monopólio da extração de petróleo no Brasil, continua na frente das empresas estrangeiras que atuam no país. Nesse ponto, o fato de ser ela uma empresa estatal “é uma grande vantagem estratégica”, afirma Boggiani. Ela é a única que dá importância às jazidas menos lucrativas.

Uma vez auto-suficiente, o Brasil estará apto a exportar petróleo – um privilégio de poucos países no mundo. Isso, contudo, dependerá do contexto econômico do momento. O petróleo ainda é a matriz energética mundial e uma matéria prima de extrema importância, de forma que, mesmo auto-suficiente, seja melhor para o Brasil não exportar, poupando suas reservas.

Por outro lado, as pesquisas com outras formas de energia avançam bastante – inclusive pela Petrobrás, que não se considera mais uma empresa de petróleo, mas de energia – e, como, no jargão geológico, “a idade da pedra não acabou por falta de pedras”, a “idade do petróleo”, mesmo sem previsões, vai acabar, e o Brasil poderia lucrar com a venda de petróleo. A exportação “vai depender do momento histórico”, conclui o professor.

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