ISSN 2359-5191

06/11/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 80 - Saúde - Instituto de Química
São descobertas novas interações entre Trypanosoma cruzi e célula humana
Pesquisa é base para estudos de como bloquear reações do parasita com célula hospedeira
Foto: Marcela Romão

O protozoário causador da doença de Chagas é objeto de estudo no Instituto de Química da Universidade de São Paulo. A pesquisadora Eliciane Mattos busca entender os mecanismos desencadeados no Trypanosoma cruzi responsáveis pela sua adesão e internalização na célula hospedeira.

A patologia já é conhecida há mais de um século pela medicina mas não tem cura. Afeta principalmente populações de área rural, em condições precárias, já que seu inseto transmissor, o barbeiro, vive em casas de pau-a-pique e ninhos de pássaros. O animal pica o homem para alimentar-se de sangue humano e, ao mesmo tempo, evacua. É nas fezes do inseto que está o protozoário em sua forma tripomastigota, que penetra na pele quando a pessoa coça o ferimento. 

A transmissão oral, por alimentos contaminados com fezes do barbeiro contendo o parasita, assim como o contágio por transfusões de sangue infectado também são responsáveis por casos mais recentes da doença no Brasil. “Existe uma droga que é usada em pacientes que desenvolvem Chagas mas só é eficiente se o contato com o parasita for descoberto ainda na fase aguda da doença, o que não é o que acontece na maioria dos casos”, afirma a pesquisadora. Além disso, declara que as drogas interferem no desenvolvimento da doença mas não a elimina.
O estudo busca identificar interações do Trypanosoma cruzi com a célula hospedeira. A forma tripomastigota do protozoário precisa entrar nela para se multiplicar e, segundo Eliciane “se há contato entre dois organismos, há contato entre suas moléculas.” De acordo a pesquisadora, a pergunta se volta a entender quais são as moléculas que estão envolvidas neste processo e que fazem com que o parasita entre.

O processo é longo. “As nossas células vivem num ambiente coberto por matriz extracelular, que é um conjunto de moléculas como uma rede emaranhada na qual as células ficam inseridas”, e continua: “sabendo que o protozoário vai encontrar a célula e que pra que ele faça isso precisa passar por essa rede, será que ela sinaliza algo para ele?”

Na busca da resposta entram as glicoproteínas — moléculas compostas em parte por açúcar, em parte por proteínas. Uma das primeiras descobertas do grupo de pesquisa é uma glicoproteína localizada na superfície da célula do parasita que é essencial para que ele consiga internalizar-se. “Essa molécula foi descoberta há muitos anos pelo nosso laboratório e tentamos identificar qual componente da célula hospedeira se liga a ela”, diz Eliciane, esclarecendo que a ligação se dá com proteínas da matriz extracelular da mesma. “Aqui no laboratório trabalhamos com uma glicoproteína do protozoário que se chama Tc85 e sabemos que ela interage com a fibronectina, que é uma proteína da matriz extracelular”, explica, acrescentando que a Tc85 também reage com outras moléculas como a citoqueratina18, que é uma molécula de dentro da célula hospedeira.

A teoria da pesquisa é de que essas interações sejam sinais que facilitam a penetração do protozoário na célula por meio de modificações moleculares químicas ou estruturais no parasita. “Acreditamos que essa interação entre moléculas do parasita com a matriz extracelular possa afetar, por exemplo, o jeito como ele alcança a célula hospedeira”, declara, esclarecendo que essa é uma maneira de perceber o ambiente e responder a ele, saber que há uma célula próxima: “O parasita precisa perceber que está passando por um sistema e que alguma coisa vai acontecer adiante.”

Os sinais gerados por essas interações intracelulares recebem o nome de modificações pós-traducionais, que consistem na “a adição de um grupo químico a uma molécula”, segundo a pesquisadora. Sua função é a de modelar a estrutura proteica para controlar seu funcionamento.. No caso da pesquisa com Trypanosoma cruzi, a principal modificação estudada é a fosforilação, isso é, adição de um grupo fosfato à proteína e é responsável pela sinalização.

Quanto à aplicação da pesquisa na saúde pública, Eliciane explica que o laboratório trabalha com pesquisa básica, que foca em entender os processos biológicos ao invés de testar drogas. “Entender a dinâmica de como os organismos entram em contato e o que geram como resposta é a premissa para poder interferir no contato”, e acescenta: “se entendermos e identificarmos como as moléculas estão interagindo, aí podemos pensar em como bloquear as interações.”

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br