Ao analisar o modo como o New York Times (NYT) cobriu a ditadura brasileira, Renata Itagyba concluiu, em sua pesquisa de mestrado desenvolvida na Escola de Comunicações e Artes, que o tom das matérias publicadas pelo jornal sempre acompanhava a relação entre o governo norte-americano e o governo brasileiro. Assim, a publicação tratava os assuntos ligados à ditadura de um modo quando os dois países estavam em um bom momento e de outro quando a relação estava abalada.
O New York Times sempre foi uma grande referência no jornalismo. Sendo um dos maiores jornais do país mais poderoso do mundo, o que ele veicula atinge muito mais do que Nova Iorque ou os Estados Unidos, suas matérias chegam ao mundo inteiro rapidamente. Foi pensando nisso que Renata decidiu analisar como um jornal tão influente havia retratado um dos momentos mais importantes da história brasileira, o período ditatorial.
O que a pesquisadora notou foi que o tom das matérias analisadas seguia a situação da relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Não era algo escancarado, mas podia ser percebido através de alguns indícios presentes nas matérias que mostravam uma mudança de abordagem, sempre coincidindo com o momento. Se a relação entre os dois países estava em uma boa fase, o que acontecia no Brasil era reportado de modo mais brando. Já quando o momento era de atrito entre os governos, as notícias relacionadas à ditadura mostravam de forma mais crítica a dura realidade do país. Exemplo disso é quando, próximo ao período mais complicado da relação entre os dois países, o New York Times chama de ditadura o que acontece no Brasil pela primeira vez ao afirmar “(...) em 1977, atingiu-se o ponto mais crítico desde o início da ditadura militar brasileira, iniciada há 13 anos”.
Segundo a pesquisadora, o jornal não chegava ao ponto de omitir fatos importantes para preservar o bom relacionamento. Porém, se precisava veicular uma atrocidade que havia ocorrido no Brasil, por exemplo, nunca apontava qualquer relação dos Estados Unidos com o que estava acontecendo, sendo que o país estava profundamente envolvido com a ditadura brasileira. De acordo com Renata, é possível notar como o New York Times representava os interesses norte-americanos.
Para realizar sua pesquisa, Renata selecionou as matérias que utilizaria a partir de alguns critérios. Primeiramente, separou textos de capa em que o Brasil fosse tema central, a partir desses, escolheu aqueles referentes a política e cultura, em seguida, selecionou entre esses os que remetessem ao envolvimento entre o Brasil e os Estados Unidos, tudo isso levando em consideração o que foi publicado entre os anos de 1964 e 1985. Assim, teve como objeto de análise 25 matérias.
A partir de algumas delas é possível perceber as ideias colocadas pela pesquisadora. No dia 2 de abril, logo após o golpe apoiado pelo governo norte-americano, o NYT já publicou “Washington Sends 'Warmest' Wishes To Brazil's Leader (Washington envia saudações calorosas ao novo líder brasileiro)”. Em 1968, quando a relação entre os países estava boa, ainda observamos as notícias sendo colocadas de forma mais amena em matérias como “Brazil's president takes wide emergency powers (Presidente do Brasil toma poderes emergenciais)”. Já em 1977, quando a crise no relacionamento estava forte, começamos a nos deparar com chamadas como “Brazil bitter at U.S. effort to impose nuclear curb (Brasil não aceita sugestões dos EUA sobre o acordo nuclear)” e “Brazilian army tightening its grip (Exército brasileiro mostra as suas garras )”. Assim, podemos notar as mudanças de tom apontadas na dissertação e sua ligação com o andamento relação entre o Brasil e os Estados Unidos.