ISSN 2359-5191

10/11/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 82 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Moda plus size não rejeita padrões de beleza
Contrariando o senso comum, o plus size constrói suas próprias normas e padronizações, reafirmando pressões sociais de feminilidade.
Dilema do manequim 44: tamanho convencional ou plus size? Foto: Marina Yukawa

Considerado um mercado de roupas mais alternativo por abranger as “gordinhas”, excluídas dos padrões de beleza convencionais e vistas como pessoas que não cuidam da aparência e da saúde, o plus size ganha espaço e se consolida no ambiente fashion. A antropóloga Marcella Betti, autora da dissertação Beleza sem medidas? Corpo, gênero e consumo no mercado de moda plus size, investiga o crescimento do setor e dos discursos que o legitimam, concluindo que, mesmo sendo uma moda mais plural, o plus size cria suas próprias medidas que reafirmam as noções de feminilidade convencionais.

O plus size dificilmente tem espaço no meio consagrado da moda. Os desfiles internacionais raramente contam com a participação de modelos de tamanhos maiores. Além disso, o segmento não costuma ser assunto de destaque em publicações especializadas e seus produtos dificilmente são encontrados em lojas comuns. Segundo a pesquisadora, tal realidade é resultado da marginalização dos tamanhos grandes em relação à moda convencional, que exclui as pessoas acima do peso dos padrões de beleza. Além disso, a noção de feminilidade vigente rejeita as “gordinhas”, que muitas vezes não são consideradas vaidosas, delicadas e elegantes.

Mas este cenário de marginalização dos tamanhos grandes vem mudando nos últimos anos. O segmento tem crescido no Brasil, criando seus próprios desfiles e eventos, profissionalizando modelos, estilistas, marcas e publicações especializadas. As mulheres entrevistadas pela pesquisadora se dizem contempladas pela moda plus size que permite que elas se vistam de acordo com as tendências da moda, mesmo usando manequins maiores que o convencional.

Entretanto, a antropóloga responde negativamente a sua pergunta título. A moda plus size não é uma “beleza sem medidas”, pois o segmento busca estabelecer padrões que oidentifique e diferencie, primeiramente com a definição dos manequins contemplados. O tamanho 44 gera diferentes opiniões entre as “gordinhas”, pois parte delas o considera um tamanho grande, enquanto que outras acreditam ser um manequim convencional. Também se criou um padrão de modelos plus size, pois o segmento estabelece certas preferências com relação à aparência física das modelos, preferências em termos de tamanho, tipo de cabelo, pele e estatura.

A moda plus size não desconstrói totalmente os padrões de beleza e feminilidade convencionais, como é pensado pelo senso comum. As roupas de tamanhos maiores em geral são pensadas para esconder possíveis excessos de gordura e afinar a silhueta, com o intuito de criar uma aparência “mais magra” nas usuárias. Como resposta às pressões sociais que sofrem, diante de ideais de beleza, saúde e feminilidade socialmente impostos, muitas das interlocutoras da pesquisa afirmam que é possível sim ser gordinha, bonita e saudável.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br