A inibição da progressão do câncer por meio da associação de drogas e diferentes tipos de radicação é foco de estudo do professor Fábio Luis Forti no Instituto de Química da Universidade de São Paulo.
Atualmente, a doença é tratada por meio de drogas quimioterápicas e por radioterapia, além da possibilidade de intervenção cirúrgica. No entanto, não tem cura e os longos tratamentos causam intensos efeitos colaterais. Segundo Forti, as drogas clínicas atuam, basicamente, danificando o material genético das células. “As células tumorais são mais afetadas do que elas têm capacidade de se recuperar”, diz, mas acrescenta que também outros tecidos do organismo são prejudicados durante o processo. Quanto à radioterapia, compara: “Nesse método você coloca o paciente sob exposição a radiação e procura focando na parte cancerígena. Diminuem os efeitos colaterais mas, ainda assim, células saudáveis são comprometidas.”
A pesquisa tocada pelo professor usa outras drogas não-clínicas cuja capacidade de inibir determinados tipos de desenvolvimento celular já é conhecida em laboratório. “Essas drogas afetam o funcionamento de algumas subfamílias de enzimas da célula, chamadas de Rho GTPases e DUSPs. A princípio, essas enzimas não estariam envolvidas com o reparo de DNA.” Explica também que seu uso é feito de forma combinada à foto ou radioterapia: “Submetemos uma célula de alta capacidade cancerígena a tratamento com essas drogas, tornando-a mais suscetível ao efeito da radiação.” Isso significa que as enzimas atingidas pela medicação estão, de alguma forma, relacionadas à capacidade de regeneração da célula e, quando inibidas, tornam o organismo mais vulnerável aos ataques radioativos. A intensidade destas terapias, como consequência, poderia ser diminuída em tratamentos combinados, com o resultado de uma atenuação de efeitos colaterais como a destruição do material genético de células saudáveis de órgãos não afetados pelo câncer.
O estudo é feito em colaboração com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP, que conta com a tecnologia dos radiadores gama, e os tumores que estão sendo investigados são de próstata, mama, colo de útero e melanoma. “Começamos investigando enzimas diferentes através do uso de drogas inibidoras específicas para cada enzima associadamente à foto ou radioterapia”, declara Forti. “O que temos descoberto é que um potencializa o outro e a diminuição da tumorigênese dessas células é bastante grande.”
A interferência das drogas na capacidade de regeneração celular levanta o questionamento acerca de uma possível relação ainda não descoberta entre este processo e a função biológica das enzimas inibidas. Forti explica que existem vários mecanismos de reparo e que a pesquisa está conseguindo mostrar correlações diretas da eficiência de alguns deles como, por exemplo, o nucleotide excision repair (NER) — processo de reparação dos nucleotídeos, moléculas que fazem parte do DNA. “Essa via é importante para reparar DNA atingido por radiações gama e raios-X, utilizados na radioterapia.”
Sobre o futuro do estudo, o professor comenta que “a ideia é avançar nas pesquisas e procurar testar essas drogas em modelos animais, como camundongos e ratos, e depois em humanos”, já que, nessa fase, as aplicações estão sendo feitas em culturas celulares humanas. Caso algumas dessas drogas não apresentem estruturas químicas apropriadas para as terapias, Forti destaca que pode-se dar início a pesquisas que desenvolvam análogas, de melhor estrutura e mesmo potencial de ação.