Os atratores luminosos, artefatos utilizados para atrair os peixes na pesca oceânica, podem causar sérios danos aos seres humanos. Ainda mais quando as substâncias encontradas nesse produto são utilizadas no dia-a-dia de populações costeiras nas atividades mais variadas, desde protetor solar até veneno contra formigas.
A pesquisa da professora Ana Paula de Melo Loureiro, do Departamento de Análises Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, ao lado de outros pesquisadores da USP e Unifesp, indica que esses lightsticks — como são conhecidos os atratores luminosos — têm substâncias como hidrocarbonetos aromáticos, clorofenóis e ftalatos em concentração altíssima. Ao colocar soluções de apenas 0,01% de concentração das substâncias encontradas dentro destes tubos em contato com células humanas, todas elas morreram.
Em seu estudo, a pesquisadora utilizou dois tipos de células humanas: os fibroblastos, que simulam o tecido da pele humana, e os hepatócitos, que têm a capacidade de simular a digestão da substância no estômago. Nenhum dos tipos de célula resistiu à toxicidade da solução com a substância dos atratores.
A ONG Global Garbage, organizada pelo fotógrafo e ambientalista Fabiano Barreto, monitorou um trecho de 93 quilômetros no litoral norte da Bahia e chegou a recolher mais de sete mil destes atratores. Estima-se que pelo menos 22.500 bastões luminosos são lançados ao mar todos os dias na costa brasileira.
Vários relatos de populações da costa norte da Bahia obtidos pela ONG apontam para a criação de mitos em relação ao uso da substância encontrada nos tubos luminosos que chegam nas praias. Dizem que o óleo possui propriedades medicinais e seria efetivo contra dores musculares e para curar doenças de pele. Eles também utilizam o produto para fazer fogo, como lubrificante, bronzeador e até para massagens relaxantes. Pescadores da região também o utilizam como repelente ao ir para áreas de mangue, enquanto outros habitantes da região usam a substância como inseticida, para matar formigas.
Ainda não há casos conhecidos de qualquer complicação de saúde grave nestas populações por causa da utilização do óleo dos atratores. Segundo a professora Ana Paula, “os efeitos podem não ter surgido em curto prazo, mas nada garante que nada acontecerá a longo prazo com a pessoa”. As substâncias encontradas têm potencial para causar degenerações no fígado ou no rim, por exemplo, além de poder causar irritações na pele.
Apesar da pesquisa comprovar a alta toxicidade da substância nos artefatos, a própria embalagem em que são vendidos afirma que o produto não é tóxico. “Isso é errado, deveria avisar do nível tóxico que aquelas substâncias possuem, e não só na embalagem como no próprio tubo, que é o que chega ao contato da população nas praias”, afirma Ana Paula.
O lançamento massivo dos atratores ao mar também podem causar danos à vida marinha, porque os animais confundem os bastões com algo comestível. “As empresas de pesca deveriam descartar este lixo nos portos, mas acaba ficando muito caro para elas recolherem e dar uma destinação melhor aos resíduos”, comenta Ana Paula.