São Paulo (AUN - USP) - A conseqüência do desmatamento da floresta Amazônica, que vem aumentando o aquecimento global, foi denunciada em palestra realizada recentemente no Auditório 5 do Instituto de Geociências da USP, pelo professor Pedro Leite Silva Dias que falou a respeito do processo de ‘savanização’ da Floresta Amazônica, resultado do desmatamento da área florestal para a criação de pastos, em um processo parecido com o da formação da brisa marítima.
A região desmatada, ao receber radiação solar, esquenta mais do que as áreas de floresta. Esse aumento de temperatura diminui a pressão no pasto gerando uma brisa que leva a umidade para o local desmatado. Dessa forma, chove mais nas regiões pastoris, enquanto a falta de chuva nas florestas provoca essa expansão do cerrado no Brasil.
Pedro Leite Silva Dias é professor do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) desde 1975 e coordenador da área de Ciências Ambientais do IEA (Instituto de Estudos Avançados da USP). Ele descreveu seu interesse pelo estudo metereológico como uma “fixação”, ao iniciar a palestra intitulada “Mudanças climáticas: Como conviver com as certezas e incertezas”, que tratou da complexidade da formação climática, suas variáveis e impactos ambientais.
Ao expor o histórico dos estudos na área, Silva Dias salientou a característica intricada desse tipo de estudo e da necessidade de pesquisa para obtenção de resultados mais confiáveis. O professor citou estudiosos da área ao declarar que, “mesmo com um modelo perfeito e condições iniciais perfeitas, o prognóstico perde toda a validade se uma pequena alteração ocorrer”. E, por se tratar de sistemas instáveis, há muitas incertezas que devem ser solucionadas através de simulações por computador. A primeira utilização de um computador em simulações climáticas ocorreu no final dos anos 40, com o Eniac (mesmo computador que realizou as simulações da bomba atômica), em Princeton. Hoje, o Earth Simulator Center, no Japão, é o maior e mais moderno centro de pesquisas e simulações climáticas do mundo.
Com relação aos desafios futuros, ele mencionou que, atualmente, a grande maioria dos estudos de simulação aponta para uma situação inviável de manutenção da Floresta Tropical, diferenciando-se apenas no prazo estabelecido em cada estudo para que isso ocorra - que varia de 40 a 200 anos. Investimentos muito altos estão sendo feitos ao redor do mundo para que esses processos sejam mais bem entendidos e previstos.
Há também grande atenção na área de adaptação às diferenças climáticas. A expectativa para o próximo encontro do Protocolo de Kyoto, em 2012, é de que restrições mais severas sejam propostas e mais investimentos em adaptabilidade sejam feitos. O metereólogo criticou a atuação brasileira no cenário mundial de combate aos impactos ambientais, que já foi mais “proativa” no passado – com o Rio92 e o próprio Protocolo de Kyoto de 1998 – mas que vem diminuindo nos últimos anos, segundo ele, por razões políticas. Silva Dias ainda destacou a necessidade de diálogo com os profissionais da área de Humanidades, para ele, mais aptos do que os cientistas a defender os interesses do país em foros internacionais que debatem as questões climático-ambientais. “Os cientistas não são treinados para defender os interesses do país (...) nós, como cientistas, temos que dar os subsídios para que os profissionais da área de Humanidades possam atuar”.