Em pesquisa com mais de mil portadores de doenças cardiovasculares para analisar o padrão de como eles vêm se alimentando após o diagnóstico da doença, a pesquisadora Camila Ragne Torreglosa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, constatou que muitos mantém o estilo de vida sedentário e a alimentação com altos índices de pães, carne bovina, gordura animal, doces caseiros, sanduíches, entre outros alimentos que entram em um padrão de alimentação que recebeu o nome de “Padrão Misto”.
Segundo o estudo, 67% dos pacientes entrevistados foram identificados como sedentários, 65% estavam com excesso de peso, 60% com obesidade abdominal. 46% tinham a pressão arterial alterada, enquanto 55% possuía hiperglicemia ou diabetes. Todos estes fatores aumentam os riscos de agravamento da doença cardiovascular. A pesquisadora ainda acredita que os números de pressão arterial e hiperglicemia só não são maiores porque muitos já fazem uso de medicamentos para controlar esses fatores de risco. Em sua maioria, os entrevistados eram idosos, tinham baixa escolaridade e pertenciam à classe C.
Camila Torreglosa analisou o padrão alimentar de todos os entrevistados e a partir disso criou dois padrões de alimentação. Além do “Padrão Misto”, relacionado ao consumo de alimentos com maior densidade energética e mais gordura saturada, como carne bovina, doces, pães e sanduíches, a pesquisadora definiu o “Padrão Básico Brasileiro”, associado ao consumo de arroz, feijão, legumes, sucos e frutas naturais, verduras, legumes e alimentos com maior índice de fibra, potássio e menos densidade energética.
Segundo a pesquisadora, os pacientes que possuíam a alimentação mais próxima ao Padrão Básico Brasileiro tinham menos fatores de risco de doenças cardiovasculares. “É possível dizer que entre os indíviduos que já tiveram um evento cardíaco, o padrão alimentar brasileiro composto por alimentos que são fonte de potássio e fibras foi associado com menor circunferência da cintura e HDL [“bom colesterol”] em nível adequado”, afirma Torreglosa.
Camila também diz que apesar do Padrão Básico Brasileiro de alimentação estar ligado a um modo de vida mais saudável, principalmente para quem já sofreu com problemas cardiovasculares, a tendência é a adoção cada vez maior ao perfil de alimentação do Padrão Misto. “O padrão misto está se tornando mais comum, principalmente nas regiões mais desenvolvidas e urbanas”, diz a pesquisadora. “O brasileiro vem substituindo o consumo de arroz, feijão, verdura, legumes e frutas por carnes, produtos industrializados prontos para o consumo, doces e salgados”.
A ideia dos próximos passos do estudo é passar orientações nutricionais aos pacientes entrevistados e analisar, após um ano do término das entrevistas, investigar se houve alguma mudança em seu padrão alimentar.