ISSN 2359-5191

06/10/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 16 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Palestra discute influências coletiva e particular da telenovela

São Paulo (AUN - USP) - Para muitos brasileiros, o principal assunto da segunda-feira é alguma cena da novela do sábado. Outros, ainda guardam na memória cenas marcantes da telenovela, como o dia em que a Dona Redonda explodiu de tanto comer. É inegável que a novela faça parte da cultura nacional, e que seja um elemento de identificação e socialização, de troca de experiências. De modo a trazer questões como essa à tona, e propor uma reflexão sobre o assunto, ocorreu recentemente, a palestra “Telenovela: imagens nacionais, experiências pessoais”, no auditório Lupe Cotrim da ECA-USP.

O debate, organizado pelo Núcleo de Pesquisa em Telenovela da ECA, reuniu Mauro Alencar, consultor, pesquisador e professor de Teledramaturgia nas oficinas da Rede Globo, e a pesquisadora no assunto Heloísa Pait, Ph. D. em Sociologia da Mídia pela New School for Social Research e professora da UNESP. O mediador foi o professor e pesquisador da ECA Rubens Rewald.

“Simpatizei com o Flamengo depois do personagem Duda, de Irmãos Coragem”

Seguindo a proposição do tema do encontro, Mauro Alencar iniciou falando de seu primeiro contato com as telenovelas. Fã de seriados americanos desde pequeno, ele conta que passou a gostar do Flamengo no momento em que o Duda Coragem (Cláudio Marzo) entrou no Maracanã lotado com a camisa do Flamengo para enfrentar o Vasco. A torcida demorou a perceber que era encenação, e a emoção foi real. Assim, para ele a cidade onde era ambientada a trama era um mundo fantástico, de onde realizava um intercâmbio de idéias e brincadeiras com a realidade.

Essa dificuldade em dissociar o real da ficção, hoje muito comum nas crianças, foi, há algumas décadas atrás, uma confusão comum entre adultos também. A novela Espelho Mágico, da Rede Globo, estreou em 1977, com uma proposta metalingüística: fazer uma novela sobre a produção de uma novela, revelando o cotidiano dos artistas e os bastidores das gravações. A novela foi um fracasso de audiência porque o público não conseguiu dissociar uma trama da outra, acabando por não entender o enredo.

Alencar destaca ainda Beto Rockfeller como um marco na teledramaturgia nacional, principalmente pelo diálogo que estabeleceu com a realidade nacional. “Ela introduz o estilo naturalista de interpretação, rompendo com a tradição teatral das nossas novelas, e coloca, pela primeira vez na história, o espaço urbano como temática central, justamente no momento que a população urbana ultrapassa a rural no Brasil”, comentou.

“A novela é um foro privilegiado de discussão”

Heloísa Pait focou o aspecto sociológico da teledramaturgia. Ela inicia questionando o sentido da novela no espaço público, e cita como exemplo o caso de um garoto americano que ficou surpreso e começou a chorar ao ver seu programa preferido na casa do coleguinha. Ele, assim como boa parte dos americanos, tem uma visão um pouco mais privada da televisão. Já a novela para nós é algo público, feita para compartilharmos com quem está ao nosso lado.

Em sua pesquisa sobre “O silêncio na TV”, Pait conversou com espectadores de telenovelas, e identificou a formação de algo como uma memória coletiva entre estes. As mesmas cenas de impacto, como o diamante de João Coragem se quebrando, em Irmãos Coragem, ou de Dona Gorda explodindo, em Saramandaia, fazem parte das lembranças de boa parte da juventude dos anos 70.

CPI é ou não é uma novela?

Tão logo terminadas as exposições dos convidados, e aberto o espaço para o debate com a platéia, surgiu a comparação entre CPI e teledramaturgia. Ambos fizeram questão de diferenciar as duas coisas, apesar de algumas semelhanças. “Apesar de pessoas na rua comentarem a CPI o tempo todo, de haver personagens principais e secundários, vilões, enredo, nela brotam fatos e personagens do nada, que promovem uma reviravolta na trama.”, disse Pait.

“Numa novela o autor tem de apresentar de cara suas peças e jogar com elas até o último capítulo. O público não aceita que a trama seja resolvida com uma prima distante que aparece no fim da novela. A existência dessa prima deve ser citada nos primeiros capítulos”, completou Alencar.

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