A tese Esboço de uma sociologia política nas Ciências Sociais contemporâneas (1968-2010): a formação do campo da segurança pública e o debate criminológico no Brasil, do pesquisador Francisco Thiago Vasconcelos, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, traz um estudo sobre as ciências sociais e sua relação com o Estado, especialmente nos âmbitos da segurança pública e da criminologia. O pesquisador destaca as ambiguidades no papel do pesquisador, que, por um lado, constrói padrões organizacionais de autonomia científica, e, por outro, se esforça em transformar seus trabalhos em práticas de governo.
Segundo Vasconcelos, é possível identificar pontos de tensão entre abordagens científicas, por exemplo, sobre o sentido das violências. Ele divide esses pontos em polo dominante e polo dominado. O primeiro adota linguagens de participação, direitos e cidadania vindas da redemocratização, que conferem conotações mais negativas à violência. Já o segundo é associado a um ponto de vista politizado, em que a violência é entendida como manifestação de descontentamentos e resistência à violência estatal por parte da sociedade. Estes polos não são opostos, mas estão em maior parte combinados, e podem ser entendidos a partir dos projetos políticos dos pesquisadores. Tais projetos determinarão suas perspectivas de atuação concreta.
O sociólogo também mostra que a participação direta ou indireta de cientistas sociais em governos se tornou mais frequente após a redemocratização, em meados da década de 1980, mas apenas nos anos 2000 condições efetivamente favoráveis foram criadas para a participação de intelectuais na elaboração de políticas de segurança pública. Modelos de pesquisa sociológica aplicada que visam a redução de índices de criminalidade e formação de políticas públicas são cada vez mais incentivadas.
Segundo o pesquisador, as disciplinas acadêmicas passam a ser consideradas como fontes de recursos, legitimação ou crítica a políticas públicas, pois “as teorias, linhas e projetos de pesquisa trazem consigo visões de sociedade subtendidas, princípios e recomendações para a reforma ou transformação”. Assim, é possível que cientistas sociais criem estratégias de intervenção da realidade com novos jeitos de pensar e agir.