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18/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 104 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Lembranças da resistência retornam à ECA
Docentes e ex-alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) compartilham memórias do período da resistência uspiana à ditadura militar

Na manhã do dia 8 de dezembro, a Escola de Comunicações e Artes (ECA) promoveu um debate em suas dependências sobre a resistência ocorrida dentro da Universidade de São Paulo (USP) à ditadura militar que presidiu o país entre 1964 e 1985. Professores e ex-alunos da instituição que foram testemunhas dessa resistência ao estado autoritário estiveram presentes para darem depoimentos.

O evento 50 anos depois: a resistência ECA-USP à ditadura militar foi proposto pela diretoria da escola e busca contribuir com o debate nacional sobre o período da ditadura e suas consequências. Tal debate é fruto também da ação da Comissão Nacional da Verdade, que vem apurando e investigando as graves violações aos direitos humanos ocorridas no período. O evento também integra o calendário de celebração dos 80 anos da universidade.

Margarida Kusnch, diretora da ECA, considera fundamental a retomada do tema como forma das novas gerações compreenderem melhor a conjuntura e os acontecimentos da época e de valorar a democracia que se vive hoje: “Muitas vezes o termo ditadura é usado na própria universidade por diversos segmentos sem a devida compreensão da sua abrangência e do que foi para minha geração, por exemplo, os anos de chumbo que vivenciamos no país. A democracia que temos hoje foi uma conquista que precisa ser valorizada e cultivada no seu verdadeiro sentido pela atual geração da ECA (estudantes, professores e funcionários), bem como por toda a sociedade brasileira”.

Adilson Citelli, professor da ECA, ex-aluno de Letras e convidado do debate como testemunha ocular da resistência, considera que “recuperar a memória histórica daqueles eventos, os seus desdobramentos e consequências para o país e para os brasileiros, deve ser um dos propósitos das instituições de ensino.” Sobre o relato a ser dado no encontro, acredita ser, mais do que o compartilhamento de lembranças, um momento de reflexão do passado e do futuro: “Não se trata, apenas, de uma sessão de lembranças, afinal falamos de um passado nem tão distante assim, mas de suscitar análises e reflexões sobre determinado momento de nossa história, permitindo às novas gerações olharem o hoje, considerando o ontem e, sobretudo, pensando no amanhã.”

Luiz Milanesi, docente da ECA, ex-aluno de Biblioteconomia e convidado do evento, frisou a dificuldade na transmissão às novas gerações das lições herdadas, por conta da diferença de valores. Ainda, chamou atenção para a dificuldade dos antigos resistentes em continuar buscando reformas em tempos de liberdade: “Não vivemos mais numa ditadura que, naquela época, nos fazia militantes das liberdades. Com a liberdade que temos hoje poderíamos continuar inovadores. Esse desafio nos é posto diariamente.”

José Coelho Sobrinho, professor da ECA, ex-aluno de Jornalismo e também convidado, não pôde comparecer ao evento, mas compartilhou com a AUN suas lembranças, frisando o atual esquecimento de ícones da resistência: “o B9, por exemplo, foi um dos primeiros prédios a ser tomado pelos estudantes em protesto contra algumas atitudes não democráticas da USP. Ele foi demolido – sem nenhum protesto de nós professores, alunos e funcionários – para dar lugar ao edifício das relações internacionais. Alguns colegas cassados (professores e alunos) estão esquecidos e devemos a eles grande parte das liberdades democráticas que hoje desfrutamos. Quero destacar três deles, sem desmerecer a importância de Paulo Emilio, Sábato Magaldi, Tomaz Farkas, Sinval Medina, José Marques de Melo e outros: Freitas Nobre (impedido de ter seu contrato de docente da USP renovado por ser deputado da oposição), Jair Borin (docente preso nas dependências da escola, passou dois anos na prisão e, quando liberto, defensor intransigentemente da democracia e da liberdade) e Vladimir Herzog (jornalista, docente voluntário na ECA e assassinado pela repressão)".

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