A educadora Daniela Eufrásio desenvolveu em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Educação da USP um estudo sobre o papel da pesquisa na formação de docentes. Foi investigado o tipo de pesquisa que é capaz de formar profissionais questionadores na área da educação. Isso foi feito a partir de indícios da contribuição da iniciação científica para a formação do aluno de licenciatura em Letras, por meio da análise do trabalho desenvolvidos por eles durante a graduação.
Sua motivação surgiu no Fórum Acadêmico de Letras (Fale), que segundo ela, “é um evento que vem propagando e fomentando exatamente a ideia de que a iniciação à pesquisa não pode estar circunscrita à pós-graduação”. Daniela ainda afirma que “a pesquisa tem que fazer parte já na graduação como um elemento da formação do aluno, inclusive, respaldado pelo tripé que sustenta a universidade que é ensino, pesquisa e extensão”.
A intenção inicial era analisar como a pesquisa pode ajudar alunos de diversas áreas de atuação. Para isso, Daniela tomou como objeto de pesquisa os alunos de licenciatura em Letras que faziam habilitação em língua portuguesa da Universidade de São Paulo. O material estudado por ela foram relatórios de iniciação científica e projetos de pesquisa elaborados no contexto de estágio.
A partir disso, a pesquisadora observou como as bases desse material selecionado eram sistematizadas. Foi investigado como elas eram definidas estruturalmente, as filiações teóricas escolhidas pelos alunos e o enfoques investigativos, além das associações entre dados, análises e interpretações presentes nas pesquisas. Numa segunda etapa, Daniela apurou as informações que eram recorrentes no material analisado.
Daniela observou, então, que as pesquisas se dividiam em dois tipos, que ela chamou de “dogmáticas” e “investigativas”. A pesquisa dogmática se caracteriza, segundo ela, pela “corroboração de algumas afirmações, de algumas respostas que não se sustentavam muito pela enfoque investigativo do trabalho, mas se sustentavam pela reprodução de um conhecimento que já é legitimado”. Nesses casos, a educadora afirma que a interpretação de dados ficava fragilizada porque o que tinha maior poder de convencimento eram os autores lidos, e não as análises e interpretações fornecidas.
Sobre as pesquisas chamadas de investigativas, Daniela afirma: “era possível perceber que as interpretações estavam fundamentadas não só nas referências teóricas, mas também nas análises dos dados apresentadas ali” e completa “quanto mais essa coleta de dados fosse abrangente e quanto mais o registro fosse rigoroso, mais isso provocava uma aproximação do trabalho à formação discursiva da investigação”.
A importância dessa investigação foi, portanto, não só avaliar como a pesquisa pode contribuir para a formação docente, mas também que tipo de pesquisa proporciona esse aprendizado. Daniela ainda afirma: “Alunos que convivem com a iniciação à pesquisa mais próxima dessa caracterização investigativa são menos receptivos às respostas pré-fabricadas”, pois, segundo ela, essa pesquisa irá “propiciar a esses sujeitos uma formação que possibilite o exercício, o conhecimento e o reconhecimento de instrumentais, de formas de analisar a realidade”.