ISSN 2359-5191

26/02/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 12 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Trabalho do farmacêutico retorna aos poucos para as farmácias
Resolução da Anvisa quer deixar para trás visão de que farmácia é só um estabelecimento comercial, mas farmacêuticos ainda têm dificuldade de aplicar novos conceitos
Farmácia não é apenas um estabelecimento comercial. Crédito: Conselho Regional de Farmácia - MG

A atividade do farmacêutico, desde a década de 40, ficou cada vez mais longe de onde deveria ser seu principal local de trabalho: a farmácia. Com a maciça industrialização da produção de medicamentos, o farmacêutico passou a buscar outras atividades, como trabalhar na própria indústria farmacêutica, ao invés de atender o público. Nesta última década, há um movimento cada vez maior de tentar ressignificar o trabalho do farmacêutico e revalorizar a “atenção farmacêutica”, com a maior proximidade entre o profissional e o paciente, que culminou na Resolução 44/2009 da Anvisa.

A resolução possui uma espécie de “manual” com as Boas Práticas Farmacêuticas e inseriu conceitos como “atenção farmacêutica” e “dispensação de medicamentos”, que pressupõe maior atenção e informação ao paciente na atuação nas farmácias e drogarias. A pesquisadora Vera Pivello, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, buscou saber como os farmacêuticos comunitários vêm aplicando estes conceitos nas farmácias da cidade de São Paulo.

Vera Pivello concluiu que os farmacêuticos da cidade de São Paulo são em sua maioria jovens, formados em instituições privadas e são contratados como responsáveis técnicos. Segundo a pesquisa, os profissionais estão familiarizados com os termos “Atenção Farmacêutica” e “Assistência Farmacêutica”, mas não dominam completamente estes conceitos.

Segundo a pesquisa, os farmacêuticos dizem encontrar dificuldades para o exercício das atividades assistenciais e ressaltam a necessidade de medidas que facilitem sua introdução. Eles se mostram inclinados a realizar este tipo de assistência, mas não conseguem fazer em sua rotina. Falta de tempo, de espaços adequados, baixa conscientização dos empresários com os serviços farmacêuticos, a necessidade de capacitação maior para realizar trabalhos mais complexos e a falta de autonomia e autoridade são as principais causas citadas pelos farmacêuticos para justificar a falta de implementação das práticas de atenção farmacêutica.

A pesquisadora critica o modelo de farmácia que foi consolidado com o passar dos anos. “O modelo de farmácia se direcionou para um modelo gerido por interesses puramente comerciais, onde o que se oferece é o menor preço, o maior desconto, ou o ‘compre 1 e leve 3’”, comenta Pivello. “O farmacêutico, com sua visão ética e sanitária, passou a não mais fazer parte desse modelo de negócio”.

Para Vera Pivello, as medidas propostas pela Anvisa terão na prática uma evolução lenta por causa dos setores empresariais que ainda têm grande interesse na manutenção do modelo estritamente comercial em suas grandes redes de “varejo farmacêutico”. “Essas atividades [de atenção farmacêutica] serão implantadas a medida que esses gestores enxergarem o oferecimento dos Serviços Farmacêuticos como uma forma também de trazer ganhos e, principalmente, a fidelização do cliente”, acredita Pivello.

O desejo de melhores condições de trabalho e consequente valorização profissional é tão grande entre os farmacêuticos, que apenas 7% dos entrevistados na pesquisa reclamaram da remuneração. “Esse dado também nos surpreendeu, pois verificamos que as questões mais relatadas pelos farmacêuticos entrevistados relacionaram-se à valorização profissional no sentido de poder realizar as habilidades adquiridas em sua graduação e às medidas estruturais para que possam desenvolver as atividades junto ao paciente”, comenta a pesquisadora. “Essas necessidades suplantam a questão da remuneração, mesmo com todas as dificuldades que a baixa remuneração venha a ocasionar”.

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