A performance de pessoas reais em documentários foi o tema estudado na tese de doutorado de Clara Ramos, realizada na Escola de Comunicações e Artes da USP. Pensando fora dos extremos como atuação e espontaneidade pura, o que a pesquisadora propõe é que, passando por diferentes níveis, a performance está presente em qualquer tipo de produção audiovisual, incluindo os documentários.
Clara teve como ponto de partida de sua pesquisa o conceito de autorrepresentação, que pode ser explicado como qualquer desempenho de um sujeito filmado por uma câmera, sem entrar no binômio de verdade ou mentira. “Isso pode ser tanto o simples desenrolar de ações cotidianas que ignoram a presença do cineasta, uma situação de entrevista ou uma reencenação construída pelo sujeito filmado e o cineasta”.
A partir disso, a pesquisadora parte para a ideia de performance e nota que ela está presente em qualquer produção audiovisual, inclusive em todos os tipos de documentário, variando o nível de consciência por parte da pessoa que é filmada.
“A performance - em algum nível - estará sempre presente, já que de uma forma ou outra, as personagens se constroem a partir da sua capacidade de se colocar em cena, ainda que não tenham consciência disso ou que esse desempenho se identifique completamente com o seu desempenho em determinado contexto social”, conclui a pesquisadora.
Clara também coloca que, mesmo sendo um conceito-chave para pensar a produção documentária da atualidade, a ideia de performance é, por vezes, deixada de lado. Isso acontece, pois, dentro de um gênero que muitos acreditam representar puramente a verdade, tratar desse conceito parece ameaçar alguns de seus fundamentos.
Em sua pesquisa Clara selecionou obras nacionais, entre elas documentários e filmes de ficção, em que a questão da performance do ator fosse explorada. Em sua escolha também considerou filmes que, para ela, se destacaram por suas marcas de autor e por questionarem os limites formais do gênero. Assim, decidiu estudar “Jogo de Cena” (Eduardo Coutinho, 2007), “Juízo” (Maria Augusta Ramos, 2007),” “Serras da Desordem”(Andréa Tonacci, 2008) e “Entreatos” (João Moreira Salles, 2004). Além disso, realizou uma pesquisa bibliográfica para relacionar com um quadro teórico as questões levantadas pelo estudo dos filmes.
Com esse material realizou um trabalho que esclarece como a performance está presente em todas as produções audiovisuais, sem significar uma falsidade ou atuação em gêneros como o documentário. Muito pelo contrário, Clara mostra como a performance não apenas está sempre presente, mas é importantíssima para pensarmos as realizações documentárias da atualidade.