ISSN 2359-5191

14/04/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 20 - Educação - Escola de Comunicações e Artes
Políticas públicas podem ajudar a construir novos sentidos para bibliotecas escolares
Ainda entendidas como coleção de informações, bibliotecas precisam de um novo significado na educação
Biblioteca escolar deve possibilitar relação crítica com a informação (Fonte: PixaBay)

Em maio de 2010 foi sancionada a lei federal 12.244, que determina que todas as instituições de ensino do Brasil devem possuir bibliotecas. Apesar de ser um avanço para a educação, a lei classifica a biblioteca como acervo organizado de recursos informacionais. Segundo a pesquisadora Lilian Viana, essa concepção, apesar de ser a mais difundida, é insuficiente. Foi a partir dessa problemática que ela realizou sua pesquisa de mestrado, apresentada à Escola de Comunicações e Artes da USP, sobre a necessidade de ressignificar as bibliotecas escolares — o que pode ser feito por meio da implementação de políticas públicas.

Lilian explica que a biblioteca deve, mais do que oferecer a informação organizada, permitir que as pessoas se relacionem com a informação ativamente, de maneira crítica e criativa. E, para que isso seja possível, é preciso que sejam implementadas medidas que não se restrinjam à aquisição e organização de livros. “Para que uma escola esteja dentro da lei, basta que ofereça o acesso à informação organizada. Isso é fundamental, mas insuficiente.”

Para conhecer uma experiência concreta e extrair referenciais teórico-metodológicos que pudessem contribuir à proposição dessas políticas para bibliotecas escolares, Lilian fez um estudo sobre a Rede Escolar de Bibliotecas Interativas, criada em São Bernardo do Campo, em 1999, fruto de uma parceria entre o poder público local e pesquisadores de Biblioteconomia da USP. O estudo dedicou-se a analisar a rede quando de sua implantação, e não sua situação atual.

O projeto da rede foi todo pensado para garantir não somente o acesso à informação, mas a apropriação do conhecimento. As cores e cadeiras foram planejadas para transmitir acolhimento, havia espaço para a oralidade, para a convivência e o compartilhamento de informações. Mas, muito mais do que o espaço físico, Lilian destaca que as políticas públicas ali empregadas investiram em atividades de formação dedicadas aos bibliotecários, professores, diretores e todos os profissionais envolvidos no projeto. “A própria equipe precisava se apropriar de um novo conceito de biblioteca.”

A partir dessas atividades de formação, foi possível integrar biblioteca e sala de aula. “As atividades desenvolvidas na biblioteca relacionavam-se àquilo que era aprendido em sala de aula, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem, o que foi possível a partir da atuação conjunta entre o professor e o profissional da biblioteca”, conta a pesquisadora.

Aliando essa observação prática a estudos teóricos, a pesquisadora pôde propor categorias importantes para a implementação de políticas públicas que de fato deem um novo sentido às bibliotecas escolares. Ela ressalta que não se trata de um padrão a ser seguido, mas sim de um caminho possível.

Lilian destaca algumas destas categorias: a vontade dos políticos em investir nessas ações; a formação e o protagonismo dos profissionais que colocarão o projeto em prática; o vínculo entre campo político e científico; a participação comunitária; e a visibilidade dos resultados alcançados, para que a sociedade se aproprie desse novo conceito, compreendendo que as políticas para bibliotecas são benéficas a todos. “Tudo isso mexe muito com a prática de ensino, ainda hoje transmissivista. É preciso desenvolver esse vínculo da escola com a biblioteca.”

 

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