São Paulo (AUN - USP) - A relação entre pesquisa científica e mercado de trabalho foi o tema mais significativo da “I Jornada de Iniciação à Pesquisa Científica em Comunicações e Artes”. Profissionais atuantes no mercado, professores e alunos bolsistas dos Núcleos de Pesquisa da ECA apontaram as ferramentas fornecidas pela pesquisa e sua importância para o mercado de trabalho e para a sociedade.
Para os organizadores e participantes da Jornada, há um aspecto que diferencia na formação oferecida pela Universidade pública em relação às particulares: “Preparar para o mercado de trabalho, qualquer universidade particular faz. Os alunos entram aqui com uma visão muito pragmática, pensando em se preparar para o mercado, como se fosse apenas uma escola técnica. Dessa forma, eles perdem oportunidade de se envolver com a pesquisa científica, o grande diferencial oferecido pela USP”, disse o professor Ismar de Oliveira, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE).
Na terceira etapa da programação do evento, o tema discutido foi “Pensar as exigências do ser comunicador – um desafio constante”. A palestrante Ana Luisa Zaniboni Gomes, diretora da Oboré Projetos Especiais, mencionou, com base em sua experiência, as vantagens de aliar o campo científico ao profissional. Como gestora de Comunicação, ela implantou um projeto de rádio intitulado “Rede de Comunicadores pela Saúde”, em 1999, nas zonas periféricas da cidade de São Paulo. O projeto resultou de um convite para participar do programa “Saúde da Família”, da prefeitura de São Paulo, o qual visava atender e informar populações periféricas sobre a tuberculose, na época uma epidemia que se alastrava nas áreas mais pobres da cidade. A idéia de associar o projeto da prefeitura a um programa de rádio deu frutos e hoje a Rede atinge 530 emissoras, localizadas em pequenos e médios municípios do Brasil. A “Rede de Comunicadores pela Saúde” consiste, basicamente, em fornecer aos radialistas locais um material com informações sobre saúde, para que eles comentem a respeito, incluindo-o na programação da rádio. A intenção é atingir um público desinformado, em sua maior parte sem o nível mínimo de escolaridade – as pesquisas do grupo constataram que há municípios com 40% de analfabetos – para o qual o meio mais eficaz de informação é o rádio.
Jornalista pela PUC-SP e mestranda em Comunicação pela ECA, Zaniboni diz ser uma profissional do mercado que, como muitos outros, buscou respostas na Universidade para questões que não podia responder. Segundo ela, encarar o desafio do “abraço” entre os dois setores contribui para que a comunicação seja reconhecida como Ciência, ou seja, como campo de conhecimento: “Quando o comunicador entender o que é a aplicação científica no rigor da apuração, na objetividade, no processo de construção da matéria, o seu trabalho passará a ser mais respeitado. É também um caminho que vai ajudar o Brasil a achar muitas respostas para o que está precisando.”.
Educomunicação
Na última etapa do evento, o NCE expôs o trabalho dos grupos de pesquisa coordenados pelo professor Ismar de Oliveira. O Núcleo desenvolveu o projeto Educomunicação, hoje implantado em 70 escolas de ensino fundamental e médio da cidade de São Paulo, e em fase de implantação em mais da metade das escolas da rede pública paulistana. As principais vertentes do projeto, resultantes da parceria com o governo municipal e diversas ONG’s, são o Educom.rádio e o Educom.TV, que envolvem jovens e adolescentes na produção de programas jornalísticos de rádio e TV.
A produtora de eventos e audiovisual Francini Segawa, 25 anos, faz parte do NCE. Formada em Rádio - TV pela ECA em 2003, ela ressalta a importância da formação como pesquisadora: “Fazer parte de um Núcleo de Pesquisa me deu base para o mercado, que está ficando mais exigente; é preciso ser uma pessoa que goste do que faz, se interesse e saiba pesquisar, ou seja, que saiba encontrar informações sobre o assunto que está pesquisando.”.
Para quem se interessa em participar de algum Núcleo, o único requisito exigido é a média, que não pode ser inferior a 7. Os alunos podem participar voluntariamente ou com bolsas, concedidas pelo CNPq ou pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), selecionadas segundo a média dos candidatos, e há obrigatoriedade de 20 horas semanais de dedicação à pesquisa.