Um estudo descobriu que a proteína RIC-8B, cujo papel está ligado às funções olfativas dos seres vivos, é responsável também pela formação do sistema nervoso de embriões, de acordo com as observações feitas pela pesquisadora Maíra Nagai em sua tese de doutorado para a Faculdade de Química.
A RIC-8B é uma proteína que atua como um amplificador do sinal olfatório, colaborando na manutenção do estímulo do odorante – elemento responsável pela produção do odor –, e que regula a atividade de outras proteínas sinalizadoras para a formação do estímulo nervoso. Ela pode ser encontrada nos neurônios olfativos, sendo responsável por interagir com uma proteína específica chamada Golf, que já foi determinada em outras pesquisas como fundamental para os processos do olfato.
Para que um estímulo seja interpretado pelo organismo, os receptores olfatórios, presentes principalmente nas cavidades nasais, detectam um odor e são responsáveis por uma sequência de processos – os quais envolvem a proteína RIC-8B – que resultam na tradução do estímulo em um impulso nervoso que pode ser compreendido pelo cérebro.
Apesar da hipótese inicial de que os camundongos teriam possivelmente alguma disfunção em sua capacidade olfativa, os testes demonstraram que os embriões produzidos com uma redução anormal de RIC-8B se tornaram inviáveis, morrendo ainda durante a gestação, poucos dias após o início das experiências.
Nessas condições, os embriões concebidos eram menores, apresentavam um desenvolvimento atrasado e apresentavam um defeito na formação do sistema nervoso, chamado exencefalia, que se caracteriza pela exposição dos tecidos nervosos que originariam o cérebro. “Isso indica que a proteína RIC-8B é essencial para o desenvolvimento do embrião, quando provavelmente desempenha uma função diferente daquela proposta para o animal adulto, no olfato”, explica Maíra.
Próximos passos
A partir das hipóteses levantadas sobre as funções da RIC-8B na formação do sistema nervoso, podem ser produzidas outras pesquisas para ver mais explicitamente o seu funcionamento em determinadas situações. Os próximos passos a serem investigados dependem de experimentos baseados em reações específicas da célula na ausência da proteína.
Estudos anteriores já trouxeram evidências sobre a importância da RIC-8B na detecção de odores, mas ainda não se sabia sobre sua necessidade na formação do sistema nervoso dos seres vivos. Uma disfunção no gene responsável por produzir a proteína pode implicar em problemas não apenas ao olfato, mas também estruturais nos organismos, durante a embriogênese, que é o processo no qual o embrião é formado e se desenvolve.
A pesquisa produziu apenas testes em camundongos, mas abriu uma possibilidade futura para sua aplicação em estudos com seres humanos, relacionando as disfunções no gene RIC-8B com problemas do desenvolvimento embrionário humano, como, por exemplo, malformações cerebrais. “Acredito que há uma grande possibilidade de que RIC-8B humana também tenha uma função na embriogênese”, aponta Maíra. Apesar disso, ainda não existem bases concretas a respeito do papel do RIC-8B em embriões humanos.